Pepe, o central que "não gosta de perder em circunstância alguma"
Vamos começar pelo fim. Képler Laveran Lima Ferreira foi distinguido pela UEFA, na quarta-feira, com o título de homem do jogo. Nesse Dinamarca-Portugal, tinha apontado um golo, jogado 90 minutos, feito 64 passes e conseguido uma intercepção, na sequência de um remate de Christian Eriksen. Como reagiu o luso-brasileiro na entrega do prémio? “O mais importante foi o esforço colectivo”.
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Vamos começar pelo fim. Képler Laveran Lima Ferreira foi distinguido pela UEFA, na quarta-feira, com o título de homem do jogo. Nesse Dinamarca-Portugal, tinha apontado um golo, jogado 90 minutos, feito 64 passes e conseguido uma intercepção, na sequência de um remate de Christian Eriksen. Como reagiu o luso-brasileiro na entrega do prémio? “O mais importante foi o esforço colectivo”.
É esta uma das características principais de Pepe, a humildade. Diz quem trabalhou com ele de perto que, a este traço identitário (“Manteve-se sempre próximo da Madeira e não esquece as pessoas”), o defesa central juntou muitos outros, que ajudam a explicar uma carreira de sucesso. “A atitude, a vontade e a capacidade física eram indiscutivelmente factores que o diferenciavam de todos os outros”, recorda ao PÚBLICO João Santos, o primeiro treinador do internacional português, então no Marítimo B.
Estávamos na época 2001-02 e Pepe aterrava no Funchal ainda com idade de júnior e de muletas nas mãos. Tinha sido contratado ao Corinthians Alagoano, mas ainda recuperava de uma lesão quando chegou ao balneário comandado por João Santos. “Sempre foi um jogador muito determinado. Era um bocado impetuoso, mas vinha disposto a vencer e isso é o que diferencia os grandes atletas dos atletas medianos: é a atitude mental”.
Impetuoso é, de facto, um adjectivo que se tem colado a Pepe como uma pastilha elástica. Sobretudo desde aquele infeliz lance com Javier Casquero, rotulado como um dos mais violentos do futebol espanhol (o jogador do Real Madrid pontapeia o adversário já caído). Estamos na presença de um jogador com dupla personalidade?
“Ele está tão centrado no objectivo que persegue, que se esquece do que anda à volta. Nesse caso, reagiu intempestivamente. Não gosta de perder em circunstância alguma, seja um lance, seja o que for”, contextualiza o antigo treinador, que recupera um episódio dos tempos em que ainda fazia parte dos quadros do Marítimo: “Recordo-me de um lance com outro atleta madeirense, em que houve uma disputa de bola e o outro ficou ofendido com a impetuosidade com que o Pepe se fez à bola e tentou confrontá-lo. O Pepe só lhe respondeu: ‘Eu vim aqui para vencer’”.
O central do Real Madrid é, porém, muito mais do que agressividade nos limites. É velocidade, capacidade de reacção, sentido posicional. “Na altura, era o mais rápido do plantel profissional do Marítimo. Em velocidade reduzida e prolongada, como costuma dizer-se. E muito dotado tecnicamente”, descreve João Santos.
Talvez por isso a badalada questão do posicionamento do jogador venha à baila com frequência. Funciona melhor no eixo da defesa ou à frente dela, como médio mais recuado (já fez esta posição várias vezes, inclusivamente na selecção)? “Pessoalmente, pelas características que tem, acho que ele é melhor central. Primeiro é muito rápido e consegue recuperar algum erro de um colega na zona central. Depois tem facilidade em fazer as coberturas nas laterais e, a partir de trás, tem uma maior capacidade de orientação para criar desequilíbrios. Penso que ele provou isso há dias”, avalia o técnico madeirense.
Neste Euro 2012, Pepe tem provado, acima de tudo, que é um dos elementos da selecção em melhor momento de forma (o próprio já disse que o grande final de época do Real Madrid contribuiu para isso) e o patrão indiscutível de uma defesa que parece não acusar o êxodo de Ricardo Carvalho.
Mais um detalhe sobre uma das figuras deste Campeonato da Europa: “É de passada larga, é resistente, é veloz, características que o tornam um central fantástico. Para além disso, não é preciso motivá-lo. Encara sempre o jogo de forma séria”, continua João Santos, para depois identificar uma lacuna: “Como coisa menos boa, tinha, na minha altura, o passe longo, mas até a esse nível penso que melhorou bastante”.
Uma análise aos dados relativos ao último jogo permite concluir que Pepe ainda tem, de facto, grande margem de progressão nesse capítulo: tentou 10 passes longos, acertou três. Por outro lado, atirou uma vez à baliza e fez um golo.