Peepoobag: o saco que é uma casa de banho e salva vidas
Numa das suas viagens, o arquitecto Anders Wilhelmson deparou-se com números assustadores associados a mortalidade infantil. E decidiu tentar mudar o rumo da história
O Peepoobag é um saco biodegradável, de uso único, que acolhe fezes e urina, e que através do auto-saneamento transforma estes dejectos humanos em fertilizante para cultivo de alimentos. Depois de ser testado no Quénia, chega agora ao Paquistão.
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O Peepoobag é um saco biodegradável, de uso único, que acolhe fezes e urina, e que através do auto-saneamento transforma estes dejectos humanos em fertilizante para cultivo de alimentos. Depois de ser testado no Quénia, chega agora ao Paquistão.
Para as cerca de 2,6 biliões de pessoas que não têm acesso a saneamento básico, nem à rudimentar latrina, existe, desde 2009, uma solução que é uma resposta imediata para um problema dramático – o Peepoobag.
Através de uma tecnologia bioquímica que se serve da ureia para eliminar bactérias e vírus das matérias portadoras de agentes infecciosos (dejectos humanos) e transformá-las em adubos biológicos, esta ideia serve dois propósitos: combater a contaminação, por fezes humanas, dos solos, cursos e lençóis de água; tornar-se numa aposta na segurança alimentar.
De Nairobi ao Paquistão
Depois dos testes sobre a sua utilidade terem tido lugar na segunda maior favela do mundo, uma aldeia chamada Silanga que fica em Kimbera, na capital do Quénia, a conhecida cidade de Nairobi, este saco chega agora ao Paquistão.
Numa parceria entre a Interchurch Organization for Development Co-Operation (ICCO), uma organização não-governamental que funciona em cerca de 50 países, e a Peepoople — assim se designa a comunidade que desenvolve, promove e distribui este saco —, cerca de 70 mil pessoas, em 10 mil agregados familiares, receberão a partir de 2013 esta resposta para solucionar a falta de saneamento básico, durante um mínimo de três meses e também em situações de desastres naturais.
No Paquistão, um dos países que mais têm sofrido catástrofes naturais, a solução Peepoo será implementada tanto para o alívio imediato das pessoas com carências monetárias como para servir de solução transitória que impulsionará a transformação das práticas sanitárias seguras no Paquistão.
As estimativas dizem que 40 em cada 100 pessoas não podem fazer algo tão simples como puxar o autoclismo, porque não o têm. Não têm sanita e, em última instância, não têm condições dignas.
Uma criança morta a cada 15 segundos
Uma criança morre a cada 15 segundos por motivos associados a doenças diarreicas. Cerca de 50% das mortes em campos de refugiados e deslocados estão ligadas à contaminação da água por fezes e urina humanas. Desse número, 80% são crianças com menos de 2 anos de idade.
Foi com estes números personificados em favelas e bairros sociais precários com que o arquitecto sueco Anders Wilhelmson se deparou enquanto viajava pelo mundo fora, para estudar o desenvolvimento urbano. Foi ele que concretizou a ideia do Peepoobag.
Este saco, que pesa menos de 10 gramas e que é facilmente transportável para qualquer zona isolada, e servirá foi também pensado para as mulheres, que em alguns países nem em público podem fazer as suas necessidades, ao contrário dos homens.
O nome em jeito de vocábulo usado para crianças ("pee and poo") pretende não deixar esquecer que todos nós temos necessidades fisiológicas. Por isso mesmo, todos nós deveríamos ter o direito de fazê-las em condições dignas e higiénicas, sem colocar em causa a nossa saúde e a dos que nos rodeiam.
Na publicidade do Peepoobag lê-se: “2,6 biliões de pessoas acabaram de receber a sua própria casa de banho”.