Em favor de uma globalização mais feliz: uma democratização urgente
O modelo de governação da globalização que hoje existe não é único nem insubstituível
A palavra “globalização” é uma palavra-chave da nossa era. Ouvimo-la por todo lado (nas conversas com os amigos, nas salas de aulas das escolas, nos media) e sentimos a sua presença quando viajamos, quando testemunhamos os fenómenos migratórios, quando navegamos na internet ou quando compramos produtos vindos de toda a parte…
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A palavra “globalização” é uma palavra-chave da nossa era. Ouvimo-la por todo lado (nas conversas com os amigos, nas salas de aulas das escolas, nos media) e sentimos a sua presença quando viajamos, quando testemunhamos os fenómenos migratórios, quando navegamos na internet ou quando compramos produtos vindos de toda a parte…
A seu respeito geram-se grandes debates e discussões, procurando a definição precisa do conceito, as consequências do fenómeno, as formas de se gerir o processo e até se discute a bondade ou perniciosidade que traz ao mundo. Muitas vezes instala-se um clima acalorado, com os defensores e opositores da globalização a esgrimirem argumentos num verdadeiro combate ideológico: porque sim, a globalização é boa, a causa do progresso mundial, porque não, a globalização é má, a causa dos desequilíbrios e da exploração… Muitas vezes cai-se na falácia maniqueísta em que, ou tudo é bom, ou tudo é mau. E essa é sempre uma má estratégia...
A verdade é que a globalização enquanto fenómeno de aproximação (física e psicológica) entre todos os habitantes do planeta não é uma questão ideológica (quanto à qual se possa estar contra ou a favor). É antes o resultado de um processo da evolução humana que fez com que sejamos cada vez mais pessoas a partilhar o mesmo espaço (o mundo) ao mesmo tempo que temos à nossa disposição tecnologias de comunicação e transporte que tornam as distâncias cada vez mais curtas. Se não destruirmos as tecnologias e não retrocedermos em número (enquanto espécie neste planeta) a globalização (esta convivência e interdependência entre os diferentes povos do mundo) não só é inevitável como se adensará!
O que há, então, para discutir? Inquestionavelmente, está nas mãos de todos nós (através das instituições, nacionais ou globais, com responsabilidades judiciais, legislativas e executivas) a participação na definição das regras segundo as quais a globalização se processa e se organiza.
Se a globalização é inevitável, inevitável não é um qualquer rumo ou forma de governação. O modelo de governação da globalização que hoje existe não é único nem insubstituível. Antes é o resultado de jogos de poder entre diversas instituições (países, grupos de interesse, empresas, organismos internacionais) que redundou num conjunto de regras que neste momento coordenam a globalização.
Acontece que à medida que a globalização se foi adensando não só o problema da sua gestão se tornou mais complexo como as consequências dessa gestão se passaram a fazer sentir de uma forma mais aguda. E aí começaram a surgir os problemas: o cidadão comum começou a sentir “na pele” as consequências dessas regras e a perceber que não tinha tido voz na definição das mesmas.
Mais democracia, mais felicidade
A crise financeira global de 2008, o crescente desemprego no mundo ocidental e o aumento da desigualdade na distribuição da riqueza são três dos maiores exemplos dessa dissonância entre o impacto que a globalização tem na vida das pessoas e a capacidade que elas têm de intervir na sua gestão. Em particular, cada uma desses fenómenos teve uma causa mais próxima: a desregulamentação do sistema financeiro global, a liberalização do comércio internacional e a evasão fiscal, respectivamente.
Estou convencido de que se o processo de definição das regras que regem a globalização fosse mais democrático (e não controlado pelos grandes interesses de pequenos grupos), existiriam regras "anti dumping" social e ambiental na Organização Mundial do Comércio (que taxariam fortemente os produtos das “sweatshop”), não se teria permitido a desregulamentação dos mercados financeiros (nomeadamente no mercado de derivados) que redundou nas bolhas especulativas e na instabilidade do próprio sistema, e criar-se-iam sistemas fiscais mais eficazes (incidentes sobre a riqueza e consumo e não sobre o rendimento, acabando com a utilidade dos paraísos fiscais).
A ser assim, teríamos um mundo mais justo e coeso, aproveitando as potencialidades da globalização e minimizando os seus efeitos perversos. Em resumo, falta democracia à globalização! Todos os estudos na área da economia da felicidade demonstram que o aumento da democracia promove a felicidade dos povos: porque controlam melhor os decisores políticos e porque sentem que participaram. Democratizemos, então, a globalização e verão como ficaremos mais felizes!