Lino Machado e os puzzles com gigantes de ferro

Antes do festival começar, o P3 foi espreitar como se fazem puzzles com palcos, como se geram recintos em parques verdes com lagos

Se não fosse coordenador de logística, se não trabalhasse como produtor, “stage manager” e responsável técnico, Lino Machado seria controlador aéreo. Nada mais, nada menos. “Devido à concentração, à logística e à responsabilidade”, elementos que sempre o atraíram, e aos quais só foge nas horas vagas, entre um puzzle, uma viagem de comboio ou mais uma página escrita. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Se não fosse coordenador de logística, se não trabalhasse como produtor, “stage manager” e responsável técnico, Lino Machado seria controlador aéreo. Nada mais, nada menos. “Devido à concentração, à logística e à responsabilidade”, elementos que sempre o atraíram, e aos quais só foge nas horas vagas, entre um puzzle, uma viagem de comboio ou mais uma página escrita. 

A abertura das portas da primeira edição do Optimus Primavera Sound está marcada para hoje, 7 de Junho, às 16h00. Esperam-se milhares de pessoas no Parque da Cidade e tudo terá de correr bem. Foi por isso que Lino, o coordenador de logística do festival, decidiu dormir, pela primeira vez, num recinto. O Primavera é “um desafio”, também porque “não é apenas um festival”, mas sim “um encontro de melómanos”.

E como é fazer puzzles com gigantes de ferro, gerar recintos em parques verdes com lagos, enfim, montar os bastidores de um festival? Lino Machado está a trabalhar no projecto desde Outubro. Conta com a colaboração de mais três pessoas e, pelo menos, duas também pernoitaram no recinto, recorrendo às guitarras para embalar. Problemas “são uma constante”, mas “perfeitamente naturais”. Felizmente, é “virgem de signo — portanto muito metódico e muito organizado”. 

Foto
Lino é um melómano assumidíssimo António Abreu

Já lá vão 16 anos de carreira. O primeiro palco que organizou foi o Palco Deixe de Ser Duro de Ouvido no Festival Paredes de Coura. Era um produto da sua editora, herança de um programa na Rádio Universitária do Minho, legado de uma festa com amigos na altura da XFM. Da Deixe de Ser Duro de Ouvido saíram os Hipnótica e os The Astonishing Urbana Fall, hoje La La La Ressonance. Ficaram conhecidos também os Prémios Maqueta que de 1997 a 1999 distinguiram bandas em várias áreas musicais. 

A editora não acabou, mas, admite Lino, “está a hibernar”. “Melómano assumidíssimo”, começou a gastar os primeiros ordenados com 16 anos em discos. Continua a coleccioná-los, de todo o género. “Tenho desde o ‘extreme noise terror’ até ao fado, do clássico à ópera, que tem sido a minha paixão ultimamente.” No recinto, ouviu, por exemplo, Cecilia Bartoli, a banda sonora do vídeo acima. Com o fim da editora, quis terminar o namoro, deixar a música. Foi para aprendiz de tubista, mas quando chegou à empresa percebeu que lá se fabricava contraplacado marítimo, isto é, as tábuas que se põem nos palcos. Encolheu os ombros e murmurou para si próprio: “Não vale a pena. A tua relação com a música continua.” E tudo (re)começou assim.