Vénus vai passar agora à frente do Sol e só voltará a fazer o mesmo em 2117

Foto
O planeta vizinho da Terra irá tornar-se num pequeno ponto escuro Daniel Rocha

Hoje e amanhã Vénus vai fazer sombra. O planeta vizinho da Terra irá tornar-se num pequeno ponto escuro quando se atravessar à frente do Sol. Portugal não está na região do globo onde o fenómeno será visível, mas haverá uma experiência em vários países onde isso acontece, que inclui cientistas portugueses, que pode ajudar a descobrir planetas habitáveis noutros sistemas solares. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas vão poder ver Vénus. Essa imagem é para ser guardada na memória colectiva pelo menos até 2117, quando os dois astros se alinharem e Vénus voltar a passar à frente do Sol.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Hoje e amanhã Vénus vai fazer sombra. O planeta vizinho da Terra irá tornar-se num pequeno ponto escuro quando se atravessar à frente do Sol. Portugal não está na região do globo onde o fenómeno será visível, mas haverá uma experiência em vários países onde isso acontece, que inclui cientistas portugueses, que pode ajudar a descobrir planetas habitáveis noutros sistemas solares. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas vão poder ver Vénus. Essa imagem é para ser guardada na memória colectiva pelo menos até 2117, quando os dois astros se alinharem e Vénus voltar a passar à frente do Sol.

Habituámo-nos à presença de Vénus como um ponto brilhante no céu. Mas aquilo que se passa com os eclipses solares - quando a Lua coloca-se entre o Sol e a Terra - também se verifica com Vénus. Só que o planeta está muito mais próximo do Sol, por isso, em vez de tapar toda a estrela, é apenas um pontinho a passar no meio. Daí o nome trânsito.

O último foi em 2004. Na altura, Portugal pôde observar Vénus. Antes, o planeta só tinha sido visto cinco vezes desde que a luneta foi apontada para o céu (1639, 1761, 1769, 1874 e 1882). O fenómeno é raro devido à órbita de Vénus à volta do Sol, que tem uma inclinação de alguns graus e não está alinhada com a órbita da Terra. Só muito ocasionalmente é que Vénus fica entre a Terra e o Sol, por isso os próximos trânsitos só terão lugar em 2117 e em 2125.

Esta é, portanto, uma oportunidade única. "É um sentimento de profunda excitação e responsabilidade", diz ao PÚBLICO Pedro Mota Machado, do Observatório Astronómico de Lisboa (AOL). Neste momento, Mota Machado encontra-se com outro astrónomo do AOL, João Retrê, no Noroeste da Índia, no Observatório de Udaipur, onde vão observar o trânsito. Fazem parte da missão Venus Twilight Experiment, coordenada pelo Observatório Astronómico de Paris e que vai fazer medições emnove locais no mundo. Além da Índia, há expedições à Mongólia, Cazaquistão, ilhas Marquesas, Japão, Havai, Estados Unidos, Austrália e ao arquipélago norueguês de Svalbard.

O trânsito vai começar por ser observado esta terça-feira na América do Norte (às 23h10 hora de Lisboa), e prossegue quarta-feira pela Ásia e por parte da Europa (terminado às 5h50 de Lisboa). De fora, ficam parte da América do Sul, de África e quase toda a Península Ibérica. Mas no site do AOL (em www.oal.ul.pt), entre muitos outros, pode acompanhar-se o fenómeno.

O objectivo da missão internacional é analisar a atmosfera de Vénus através da luz do Sol que a atravessa e chega à Terra. "Verificou-se que aparecia uma auréola iluminada em torno de Vénus, devido à sua atmosfera funcionar como uma lente e refractar a luz solar", explica Mota Machado. "A recolha dessa auréola de radiação é o fito principal."

Esta observação permitirá obter um perfil térmico da atmosfera de Vénus, das suas várias camadas e, ainda, recolher informação sobre os seus constituintes - dados que podem ser comparados com outros recolhidos por sondas. "Talvez o mais importante seja o desenvolvimento de uma ferramenta científica para estudar trânsitos planetários com detalhe", explica Mota Machado. Esta técnica pode ser preciosa para analisar os constituintes da atmosfera de planetas que giram à volta de outras estrelas, para descobrir quais têm condições para a vida.

Ao mesmo tempo, haverá observações no espaço feitas, por exemplo, pelo telescópio Hubble e pela sonda Venus Express, da Europa.

Num comentário recente na revista Nature, o astrónomo norte-americano Jay Pasachoff, da União Astronómica Internacional, defendeu a recolha do máximo de informação. "Nunca se sabe o que será vital para a investigação futura."