Em Barcelona pede-se uma cerveja em português

Estudantes, desempregados e até trabalhadores portugueses foram até Barcelona para trabalhar no Primavera Sound. Há até jovens casais, que aproveitam estes trabalhos temporários para ganharem mais algum dinheiro

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Greencolander/Flickr

São 150 e estão espalhados por dez bares. Estudantes, desempregados e até trabalhadores. Vieram de propósito de Portugal para trabalhar no Primavera Sound. Para a semana trabalham também no Porto.

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São 150 e estão espalhados por dez bares. Estudantes, desempregados e até trabalhadores. Vieram de propósito de Portugal para trabalhar no Primavera Sound. Para a semana trabalham também no Porto.

Ao contrário do que seria de esperar, no Primavera Sound de Barcelona até se fala muito em português. Em metade dos bares não precisamos de fazer o esforço linguístico e dizer que queremos “una cerveza”, bastando usar o tradicional “fino” ou “imperial”.  Lá estão jovens portugueses que viram neste trabalho uma forma de ganhar um dinheiro extra e de conhecer o festival. Se se organizarem, conseguem até ver alguns concertos.

João Miguel Moreira tem 20 anos e é estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Quando começou a trabalhar em festivais ainda nem tinha idade para entender o que ali se passava, ou não fosse ele natural de Paredes de Coura, mas hoje vê nisso uma oportunidade. Há muito tempo que queria vir ao Primavera e este ano está cá.

“Esta é uma forma de juntar o útil ao agradável, junto algum dinheiro e vejo os concertos que me interessam”, contou ao P3, explicando que mesmo a trabalhar é possível ver o que está a acontecer. A vista do bar onde está com mais 15 amigos, virado para o palco San Miguel, também ajuda.

Mas se João Miguel já tem experiência nestas andanças, a estreia de Diogo Machado aconteceu aqui. “Nunca tinha trabalhado em festivais mas achei que era uma boa ideia”, disse o estudante, que soube deste trabalho através de João Miguel.

Mais abaixo, no palco Vice também está uma equipa de portugueses, alguns de Braga, outros do Porto e outros de Paredes de Coura. Como nos outros bares, há momentos de grande movimento em que mal conseguem espreitar para o palco mas há horas também em que se conseguem dividir e aproveitar para dar uma volta pelo recinto. Filipa Brandão tem 24 anos e é psicóloga, para cá estar tirou férias no emprego. “Sempre fico a conhecer o festival.” E não foi a única com trabalho a marcar férias para estes dias. Há até jovens casais, que aproveitam estes trabalhos espontâneos para ganharem mais algum dinheiro.

Ideia da Eventualidades e Casualidades

O grande responsável disto tudo é João Paulo Viana, que criou a empresa Eventualidades e Casualidades, depois de perceber o potencial que os festivais oferecem. Natural de Paredes de Coura, foi lá que tudo começou. No ano passado, durante o Festival Paredes de Coura, foi apresentado aos responsáveis do Primavera Sound, que repararam no seu trabalho. Depois de algumas conversas, aqui está ele em Barcelona e para a semana estará no Porto. Consigo trouxe 170 pessoas, sendo que 150 estão a trabalhar nos bares e 20 na logística.

O festival ainda não acabou mas o saldo que faz é mais do que positivo. “Superou as expectativas”, afirma, sem qualquer hesitação. As vendas correm bem e, ao contrário, do que estão habituados em Portugal, aqui o público paga e não é de se queixar muito. “Até nos deixam gorjetas — e que gorjetas”, brinca João Miguel. Também Ricardo Silva, de 29 anos, responsável pelo bar do palco Pitchfork, não deixou de reparar que as gorjetas por aqui são bem altas. “São todos super-simpáticos e acessíveis, não implicam com nada.”

Ou com quase nada. É sabido que alguns espanhóis, especialmente de Barcelona, não simpatizam muito com os portugueses, muito à conta do futebol, e por isso também eles não deixaram de reparar na presença destes nos bares. “Primeiro querem perceber como é que chegámos aqui e depois alguns querem saber porquê”, conta Ana Lages, de 25 anos, explicando que alguns espanhóis não têm visto com bons olhos esta incursão portuguesa.

E por falar em Portugal, há também o famoso pão com chouriço sempre a sair do forno e já habitual nos festivais portugueses e ainda uma tenda de promoção do Festival Paredes de Coura, que à entrada do recinto não passa despercebida a ninguém, a lembrar-nos o que aí vem em Agosto.

Cláudia Carvalho viajou a convite da organização