Leilão do prédio por 1 euro adiado por falta de espaço
A iniciativa destina-se a jovens entre os 18 e 35 anos, mas alguns interessados falam de "embuste" e "palhaçada"
A Câmara de Braga adiou, por falta de espaço, o leilão com base de licitação de um euro de um prédio devoluto no centro histórico da cidade, perante a revolta de alguns dos interessados, que classificaram a iniciativa como um “embuste”.
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A Câmara de Braga adiou, por falta de espaço, o leilão com base de licitação de um euro de um prédio devoluto no centro histórico da cidade, perante a revolta de alguns dos interessados, que classificaram a iniciativa como um “embuste”.
“Isto é um embuste, uma palhaçada”, gritou um dos eventuais licitantes, lembrando que o leilão se destina a jovens entre os 18 e os 35 anos mas a sala estava “cheia de gente com muito mais idade”.
O presidente da Câmara explicou que os jovens interessados que por uma razão ou outra não podem comparecer ao leilão têm a possibilidade de emitir uma procuração, fazendo-se representar por outra pessoa.
O leilão foi marcado para o salão nobre da Câmara, tendo comparecido mais de uma centena de pessoas, muitas das quais não conseguiram entrar, por falta de espaço. “Não era previsto esta quantidade de gente, nunca pensei que a comunicação social desse este relevo todo”, justificou o presidente Mesquita Machado, garantindo que vai ser marcada nova data para o leilão, que poderá acontecer já na próxima semana, num espaço onde caiba toda a gente, “para haver igualdade de condições para todos”.
Rui e Sara são jovens namorados, estudam na Universidade do Minho e hoje foram ao leilão, mas confessaram à Lusa que na bagagem não levavam “grande esperança”. “A filosofia do leilão até é boa, mas temos de ser realistas, há aqui empreiteiros e bancos que vêem nisto uma grande oportunidade de negócio. Quem vem aqui e não tem um forte suporte por trás vai de certeza de mãos a abanar”, referiu Rui. Uma ideia partilhada pela namorada, que afirmou ser “muito difícil ultrapassar os interesses instalados” e que se manifestou “consciente” de que o prédio “não vai certamente parar” às suas mãos. Mesmo assim, o jovem casal estava disposto a oferecer até 20 mil euros pelo edifício.
Augusto Lopes foi “espreitar” o negócio em nome do filho e admitiu que a sua oferta poderia ir até os 50 mil euros, apesar de ir “um bocadinho com o pé atrás”. “Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O grande problema disto é que as obras de recuperação têm de estar prontas em 24 meses, e com a crise que o país atravessa não está fácil. Recuperar aquilo nunca custará menos de 200 mil euros”, referiu.
O objectivo da Câmara com este leilão é “reforçar a aposta” na reabilitação urbana e na fixação de jovens no “coração da cidade”. A iniciativa destina-se a jovens com idade entre os 18 e os 35 anos e que sejam naturais ou residentes no concelho de Braga.
Constituído por rés-do-chão e mais dois andares, o prédio tinha sido adquirido pela Câmara por 45 mil euros. Em declarações à Agência Lusa, o vereador do Urbanismo, Hugo Pires, explicou que este leilão se insere no Programa Estratégico de Reabilitação do Centro Histórico de Braga. “O objectivo do programa é requalificar os edifícios degradados do centro da cidade, para assim atrair mais jovens para viverem nesta zona nobre de Braga”, explicou. Acrescentou que o valor da base de licitação é “simbólico” porque “a autarquia não pretende ganhar dinheiro com esta iniciativa”.
A Câmara ainda disponibiliza o projecto de arquitectura do imóvel, já elaborado e aprovado. “Quem comprar o edifício tem apenas de concluir o processo de reconstrução em 24 meses”, avisou o responsável, destacando que o prédio “está bem localizado e as condições de aquisição são únicas”.