Casamento gay: Obama tem sabido fazer os trabalhos de casa
Mesmo tendo consciência de que pode perder votos ao levantar uma questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que até podia esperar por um possível novo mandato, Obama mostra de que massa é feito
Enquanto na Europa se fazem antevisões de como a austeridade imposta pela senhora Merkel vai afectar negativamente os países do Sul (… ou todos os países europeus ao mesmo tempo), nos Estados Unidos da América (EUA) são as declarações do Presidente Barack Obama a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo que faz “ferver” grande parte da opinião pública. Num país em que o caldo de culturas e de religiões é dos mais complexos do planeta, Obama atreveu-se a mexer num dos chamados “temas fracturantes”.
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Enquanto na Europa se fazem antevisões de como a austeridade imposta pela senhora Merkel vai afectar negativamente os países do Sul (… ou todos os países europeus ao mesmo tempo), nos Estados Unidos da América (EUA) são as declarações do Presidente Barack Obama a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo que faz “ferver” grande parte da opinião pública. Num país em que o caldo de culturas e de religiões é dos mais complexos do planeta, Obama atreveu-se a mexer num dos chamados “temas fracturantes”.
Conservadora, progressista, liberal, ignorante, um passo à frente dos outros povos — a sociedade norte-americana é merecedora dos mais variados adjectivos, pelos seus detractores e pelos seus adeptos. É o preço a pagar pela diversidade. No caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a variedade de opiniões é a excepção no meio da regra: é que, segundo uma recente sondagem feita pelo jornal Washignton Post e pela ABC News, os pró-casamento entre pessoas do mesmo sexo e os contra dividem-se praticamente de forma igualitária entre o “sim” e o “não” à legalização geral deste acto civil — ou, visto de forma mais afectiva, desta opção de vida.
A favor do “sim” estão, na maioria, os democratas, os liberais e os moderados, as mulheres, os brancos, a faixa etária entre os 18 e os 39 anos, os eleitores com mais estudos, com maiores rendimentos, do Noroeste, Midwest e Oeste. Num dos grupos mais sensíveis da sociedade, ou seja, no “mix” raça versus religião, há pouca margem para dúvidas: são a favor da legalização os que não têm religião (79%), os católicos brancos (58%) e os brancos não-evangélicos/protestantes (64%).
Mesmo tendo consciência de que pode perder votos, ao levantar uma questão que até podia esperar pelo início de um (possível/expectável) novo mandato, Barack Obama dá mostras da massa de que é feito. Um homem sem temores, que lança para a sociedade norte-americana os assuntos que lhe tocam no coração, que sente poderem mudar a vida de muita gente, ainda que a troco de muita polémica.
Por se tratar de uma nação estruturada numa base federalista, os EUA exigem que cada um dos candidatos presidenciais tenha o engenho suficiente para captar votos de todos os quadrantes. E nisso, Obama é mestre: quando, em 2008, foi eleito Presidente do país mais poderoso do mundo, aproveitou a aura de homem de consensos para combater as fraudes eleitorais, o poderoso grupo dos “lobbies”, o terrorismo nuclear, as deficiência do serviço nacional de saúde e uma miríade de outras pequenas/grandes iniciativas. Pode não mudar o mundo de um dia para o outro. Mas pode ajudar.
Chama-se a isso “evolução”. Do pensamento — e das convicções — de uma sociedade em que as pulsões pessoais não podem, nem devem, servir para condicionar as vidas de terceiros. É certo que quando a campanha eleitoral aquecer de verdade, este tema sairá de cena, para dar lugar ao crescimento económico e o combate ao desemprego, assuntos bem mais caros aos eleitores.
Mas, para já — e bem —, o Presidente e candidato democrata aproveita para marcar pontos no desenvolvimento da sociedade norte-americana. Há oito anos, dois em cada três americanos eram contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Este ano, há um empate técnico. Obama tem sabido fazer os trabalhos de casa.