Cannes: Polanski fez um anúncio e deitou a Prada num divã
Roman Polanski realizou um anúncio para a Prada. Ben Kingsley e Helena Bonham Carter interpretam um terapeuta e uma paciente numa sessão interrompida por um casaco de peles
"Uma Terapia". Assim se chama o "spot" publicitário que o franco-polaco Roman Polanski realizou para a Prada, para provar que “podia fazer curtas tão bem quanto longas”. No “anti-anúncio”, como o qualificou o cineasta, Ben Kingsley e Helena Bonham Carter interpretam um terapeuta e uma paciente numa sessão interrompida por um casaco sedutor.
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"Uma Terapia". Assim se chama o "spot" publicitário que o franco-polaco Roman Polanski realizou para a Prada, para provar que “podia fazer curtas tão bem quanto longas”. No “anti-anúncio”, como o qualificou o cineasta, Ben Kingsley e Helena Bonham Carter interpretam um terapeuta e uma paciente numa sessão interrompida por um casaco sedutor.
O "spot" foi apresentado no festival de Cannes, nesta segunda-feira, antes da exibição de "Tess" (1979), filme de Polanski distinguido com três Óscares (e com mais uma dezena de prémios, entre os quais três Césares e um Bafta) programado na secção que o festival francês dedica aos clássicos. A curta foi mostrada de surpresa, na presença do realizador.
“É muito reconfortante saber que ainda existem espaços abertos à ironia e à sagacidade e, com certeza, a Prada é um deles”, disse então Polanski, segundo o britânico "The Guardian", que escreve que o anúncio, “como união entre marca e artista, é quase perfeito”.
O nome da marca aparece apenas duas vezes no filme, que ao contrário do que é norma nos anúncios de moda, monta toda a narrativa em cima de diálogos. Prada aparece nas palmilhas dos sapatos da personagem de Helena Bonham Carter, que os descalça quando chega ao consultório de Kingsley e se deita no divã para a sessão de terapia.
Começa a relatar os seus infortúnios de senhora abastada, mas o interlocutor desinteressa-se e é seduzido pelo casaco de peles que a paciente pendurou no cabide, com o qual começa a dançar ao espelho. Só no final volta a marca a aparecer no ecrã. O humor da cena, que consiste na atracção que o terapeuta sente pelo produto – o casaco de peles – de uma riqueza que a sua paciência lamenta por lhe ter proporcionado uma vida de solidão, culmina com um “O que é que tudo isto significa?”, proferido por uma confusa Bonham Carter.
É esta a ironia e o humor de que Polanski falou no seu discurso, na Croisette. A acompanhar o trabalho do realizador e dos actores – que têm agora filmes nas salas portuguesas (Ben Kingsley é um dos protagonistas de "O Ditador", de Larry Charles, e Helena Bonham Carter integra o elenco de "Sombras da Escuridão", de Tim Burton) – estão o compositor Alexandre Desplat ("O Estranho Caso de Benjamin Button", "O Discurso do Rei") e o director de fotografia português Eduardo Serra ("As Asas do Amor","Rapariga com Brinco de Pérola").
Esta não é a primeira vez que as grandes marcas da moda recorrem a cineastas de renome para filmar os seus anúncios. Antes de Roman Polanski, cuja obra inclui títulos como "A Semente do Diabo" ou "O Pianista", a Prada já tinha trabalhado com Ridley Scott, enquanto David Lynch e Kenneth Anger filmaram, respectivamente, "spots" para a Dior e a Missoni.