Dois cientistas da Fundação Champalimaud venceram bolsa internacional

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Vários investigadores da Fundação Champalimaud têm recebido financiamento internacional Miguel Manso (arquivo)

O Human Frontier Science Program (HFSP) é um programa de uma organização com sede em Estrasburgo, França, que promove a ciência de ponta. A organização começou a ganhar raízes em 1986, graças ao governo japonês, e hoje é constituída por vários países. Uma das grandes apostas é promover a internacionalização da ciência, financiando anualmente projectos de várias equipas de países diferentes.

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O Human Frontier Science Program (HFSP) é um programa de uma organização com sede em Estrasburgo, França, que promove a ciência de ponta. A organização começou a ganhar raízes em 1986, graças ao governo japonês, e hoje é constituída por vários países. Uma das grandes apostas é promover a internacionalização da ciência, financiando anualmente projectos de várias equipas de países diferentes.

O projecto de Alfonso Renart, por exemplo, é partilhado com a equipa de Paul Chadderton, do Imperial College de Londres, e de Sebastien Royer, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul, em Seul. O cientista, que na Fundação Champalimaud está à frente do Laboratório de Dinâmicas de Circuitos e Computação, quer perceber como é que funciona, em ratos, a memória de curto prazo. Ou seja, a memória que se utiliza para guardar uma informação que vai ser utilizada pouco tempo depois e, de seguida, pode ser esquecida.

Uma das formas de se avaliar isto é analisar o funcionamento de grupos de neurónios (as células do sistema nervoso que estão maioritariamente no cérebro) que existem no córtex pré-frontal. “Estes neurónios não param de disparar quando um estímulo [um barulho, por exemplo] desaparece, continuam a disparar durante o tempo em que o animal precisa de se lembrar do estímulo”, explica o investigador espanhol ao PÚBLICO.

Antes, só se tinha analisado esta actividade em neurónios isolados. Renart quer dar o passo seguinte. “Vamos medir a actividade de muitos neurónios em simultâneo, mais de uma centena, para perceber como neurónios diferentes se juntam para gerar representações de memórias de curto prazo”, revela. O financiamento vai permitir contratar pessoas para trabalharem no projecto e comprar equipamento experimental.

O cientista espanhol recebeu o financiamento na modalidade de Jovem Investigador, para cientistas que são chefes de laboratório há menos de cinco anos. O HFSP só deu oito financiamentos destes. Já Carlos Ribeiro ganhou a bolsa programa para cientistas principais, juntamente com mais 24 projectos.

Ao todo, candidataram-se 800 projectos ao programa e só 33 conseguiram ser financiados, o que equivale a 4,1% dos projectos. “Eu e Alfonso Renart dizíamos sempre que os dois não iríamos conseguir ganhar o financiamento”, lembra ao PÚBLICO Carlos Ribeiro, que tem pais e nome portugueses, mas nasceu e viveu na Suíça.

Carlos Ribeiro está interessado em perceber como é que as moscas-da-fruta escolhem os alimentos em relação às suas necessidades de nutrientes. Já se percebeu que quando a Drosophila melanogaster passa por uma dieta deficiente em proteínas, depois, quando tem oportunidade, escolhe alimentos ricos nestes nutrientes - a carne em detrimento das batatas, por comparação.

Agora, o cientista que perceber o que é que se altera a nível molecular e neuronal para isso acontecer, e como é que depois esta alteração resulta em comportamentos diferentes. “Como é que a informação interna está a ser trocada com a informação externa”, resume. O projecto reúne ainda as equipas de Aldo Faisal, do Imperial College de Londres, e de Michael H. Dickinson, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.