Mexetrada: duas designers à procura da inovação no artesanato português
O projecto “Mexetrada” vai levar duas designers portuguesas a visitarem cinco sítios onde vão aprender técnicas de artesanato antigas e projectá-las em novos objectos
Mexe-te. Faz-te à estrada. “Mexetrada” é o projecto da Mariana Lencastre e da Teresa Seabra Pereira, duas designers (formação na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa) que estão a fazer malas para ir a cinco sítios de Portugal onde vão aprender, com artesãos, as técnicas utilizadas no país.
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Mexe-te. Faz-te à estrada. “Mexetrada” é o projecto da Mariana Lencastre e da Teresa Seabra Pereira, duas designers (formação na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa) que estão a fazer malas para ir a cinco sítios de Portugal onde vão aprender, com artesãos, as técnicas utilizadas no país.
São cinco locais, cada um com uma especialidade: latoaria, cadeira alentejana, empreita de palma, vidro e renda de bilros. A ideia é ir bebê-las à origem e, a partir daí, criar objectos sob uma perspectiva inovadora, como se lhes fosse emprestada uma nova personalidade, salvaguardando sempre a tradição portuguesa que lhes está inerente.
O projecto Mexetrada preocupa-se em dar mais evidência às técnicas que estão no fundo do bolso, “mais esquecidas ou em nichos mais pequenos”, como explicaram as designers ao P3. Inicialmente, fazia parte da lista, a cerâmica, que acabou por ser excluída por já haver uma indústria grande em Portugal. Também podiam ter escolhido a filigrana, uma forma artística que consideram “interessante” mas que trabalha materiais excessivamente caros.
Depois de encontrarem as cinco técnicas que enchiam os dedos de uma mão, delinearam o trajecto que consiste em adquirir conhecimento base sobre elas para conseguirem “projectar objectos inteligentes, que tirem partido das técnicas e dos materiais e que possam chegar a mais e mais novos consumidores.”
Mas elas explicam melhor que nós: “não nos queremos agarrar às peças que já existem, mas sim pensar unicamente na maneira de trabalhar o material e tirar partido disso. Por exemplo, vamos aprender o empalhamento utilizado na cadeira alentejana mas não quer dizer que desenhemos uma cadeira”. O papel dos artesãos é importante, não fica secundarizado, muito pelo contrário. Será tudo feito em reciprocidade, dando a possibilidade aos artesãos de “uma projecção em mercados diferentes dos seus habituais, abrindo o seu espectro de vendas”.
A inspiração chama-se Portugal
Em paralelo, a viagem vai ser toda documentada para “dar a conhecer como são feitas as peças” e catapultar, em termos turísticos, o país. Está tudo pensado mas ainda não puseram os pés a caminho. Querem tudo a 100%. A alma cheia a 100%, a vontade de criar a 100%. Mentira, não é tudo. A mente vai em modo “tabula rasa”, vazia para absorver em pleno o que vai surgir. O vazio provocado por estarem ambas sem trabalho foi o primeiro degrau desta escada que têm para subir.
Candidataram-se a estágios dentro e fora do país e não obtiveram respostas. Mentes mexidas que são, depressa começaram a surgir ideias. "Faz parte da nossa maneira de ser, estar constantemente a atirar para o ar ideias de coisas que gostávamos de fazer. Enquanto mandávamos currículos e portefólios a pedir estágios, continuámos sempre a pensar em como pôr a funcionar as ideias de projectos que íamos tendo”.
A hospitalidade típica dos portugueses foi, sem dúvida, mais um estímulo para deixarem o envio de portefólios de parte e focarem-se completamente nos planos que alinhavaram. À pergunta sobre se Portugal as inspira, respondem que “sim, Portugal é a maior inspiração aqui”.
Lembram-se de uma conversa que tiveram em que repararam que a famigerada “crise” leva as pessoas a regressarem às origens, talvez pela vontade de poderem contribuir de alguma forma para o país. Concordam que o design em Portugal “vai crescendo”, que temos "óptimos criativos e que somos um "povo de designers inspirados”.
Pensam que há várias maneiras de tornar projectos como este realidade por haver “inúmeros apoios e concursos a iniciativas de projectos empreendedores”, sem esquecer as “plataformas de crowdfunding”, um tipo de financiamento em comunidade. Confessam-se “fascinadas” com o apoio que têm recebido e com o ânimo das pessoas que querem ajudar e participar. Não esperavam tanta adesão, daí que o espírito efusivo em torno da ideia seja, para elas, a melhor parte disto tudo.
Focadas agora no Mexetrada, não negam que já têm mais ideias para outros projectos futuros. Mas isso vai ficar para uma outra estrada de um outro mapa.