Crise pode estar na origem da diminuição do número de mortos na estrada
São números da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) e que se reportam apenas às vítimas contabilizadas nos locais dos acidentes. Especialistas rodoviários contactados pelo PÚBLICO alertam que esta diminuição não representa, certamente, uma maior consciencialização dos automobilistas mas é uma consequência da crise financeira, que leva muito menos gente para as estradas.
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São números da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) e que se reportam apenas às vítimas contabilizadas nos locais dos acidentes. Especialistas rodoviários contactados pelo PÚBLICO alertam que esta diminuição não representa, certamente, uma maior consciencialização dos automobilistas mas é uma consequência da crise financeira, que leva muito menos gente para as estradas.
Há menos dinheiro para pagar combustível, portagens, seguro automóvel, etc., logo, há menos circulação nas estradas portugueses. “Os efeitos da actual crise vamos senti-los talvez daqui por três ou quatro anos. Nessa altura é bem possível que aumentem o número de acidentes e que muitos desses casos ocorram devido aos actuais problemas financeiros”, avalia Vitor Meirinhos, colaborador da Associação dos Cidadãos Auto-mobilizados (ACA-m). “Muita gente está a entrar em ‘incumprimento’ não fazendo revisões por não ter capacidade financeira. Daqui por alguns anos muitos dos automóveis, cujas condições de segurança se degradaram, podem estar envolvidos nesse previsível aumento de acidentes”, acrescenta.
Também Maria João Martins, enfermeira ortopédica no Hospital do Outão, em Setúbal e autora de uma tese sobre sinistralidade, defende que a crise económica é o principal factor: “Nota-se que há menos gente nas estradas, sobretudo nas grandes cidades. Por outro lado, é possível que também se circule mais devagar, o que poderá ser explicado pela necessidade de poupar”.
A crise financeira e a consequente diminuição do número de automóveis a circular são razões avançadas por um oficial da GNR, contactado pelo PÚBLICO, para explicar o facto de no primeiro trimestre se terem registado 182 vítimas mortais nas estradas contra 232 em igual período do ano anterior. Para este responsável, que solicitou o anonimato, existe, no entanto, um factor que será responsável por muitos acidentes e que “seria facilmente eliminado”, caso os cidadãos cumprissem as regras: “Ainda há acidentes graves devido à utilização de telemóveis e por consumo excessivo de álcool e drogas”.
Os comportamentos de risco ao volante são causas sugeridas também por Vitor Meirinhos que, por outro lado, destaca uma eventual falta de consciencialização dos automobilistas para explicar muitos acidentes. “Na Alemanha, por exemplo, não se pode circular a mais de 130 quilómetros hora na maior parte das autoestradas e, apesar de os carros ultrapassarem facilmente essa velocidade, não são muitos os que arriscam. Em Portugal, se vai um carro da GNR a circular numa autoestrada, faz-se uma fila imensa atrás. Vai toda a gente a 120 mas, assim que o carro da GNR desaparece, quase todos aumentam a velocidade. Isso significa que as pessoas têm um certo temor devido a eventuais multas mas, aparentemente, não ligam às regras instituídas”.
Por fim, também as condições de manutenção das estradas e as respectivas sinalizações são apontadas como factores que, de momento, podem contribuir para a diminuição do número de sinistros mas que, no futuro, e caso não exista capacidade financeira, podem degradar-se e em consequência, fazerem aumentar a sinistralidade.
Os números da ANSR ontem divulgados referem ainda que, fazendo apenas as contas ao número de mortos na estrada contabilizados num ano (entre 8 de Maio do ano passado e o dia 7 do mesmo mês deste ano), se verificou um decréscimo de 752 vítimas para 639.
Nos primeiros três meses deste ano a PSP e a GNR registaram 635 feridos graves, um número bem inferior ao contabilizado no primeiro trimestre do ano transacto, quando foram contabilizados 759. Também o número de feridos ligeiros é agora inferior, cifrando-se nos 11.362, menos 1879 do que em 2011.