Eu e o Occupy São Francisco
São Francisco, 1 de Maio. Os meus sentimentos relativamente ao movimento Occupy são algo ambíguos. Senti-me como se estivesse a entrar na casa dos meninos da Terra do Nunca do Peter Pan
Penso que já todos ouvimos falar do movimento Occupy: começou com a ocupação de Wall Street por um grupo de activistas, protestando contra a minoria beneficiada pelo sistema capitalista, pelas falhas grotescas deste, pelas injustiças sociais e desperdício de recursos que este cria.
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Penso que já todos ouvimos falar do movimento Occupy: começou com a ocupação de Wall Street por um grupo de activistas, protestando contra a minoria beneficiada pelo sistema capitalista, pelas falhas grotescas deste, pelas injustiças sociais e desperdício de recursos que este cria.
O movimento contagiou pessoas de outras cidades, estados, países, continentes. Quando surgiu a oportunidade de acompanhar as suas actividades na primeira pessoa aqui, em São Francisco, no dia 1 de Maio, não a deixei passar ao lado e dirigi-me ao Financial District pouco depois da hora que anunciavam nos panfletos.
Já tinham iniciado a marcha, à qual me juntei e acompanhei até ficar sem película. Entoaram hinos e versos de contestação e motivação, dançaram, cantaram, e apesar de ser um grupo algo reduzido teve algum impacto na cidade e vários vieram mostrar o seu apoio. Tive de abandonar a manifestação para ir buscar mais película a casa, para poder voltar a acompanhá-los, consultei o website do movimento Occupy SF para saber do seu paradeiro, visto que todo o dia de actividades estava a ser transmitido em directo neste website.
No Twitter, algumas pessoas anunciaram que estavam agora na “okupa” onde os colaboradores do movimento se reúnem. Ouvi uns dias mais tarde que alguns tinham continuado a sua marcha e que esta tinha terminado na vandalização de várias lojas e negócios locais.
Apesar de não poder confirmar se isto realmente aconteceu, um rapaz disse-me, durante a manifestação, que “devíamos começar a partir montras, mostrar a esses porcos capitalistas quem manda”. E é possível que tenha levado a sua avante, apesar de ser uma atitude ridícula e que só contribui para a descredibilização do movimento, opinião que partilhei com ele nesse momento.
Quando encontrei a “okupa” a que se referiam no Twitter devo confessar que tive alguma dificuldade em continuar a encarar com seriedade este movimento. Apesar de concordar plenamente com o que defendem, creio que a postura e abordagem deles não será a mais séria ou credível.
Senti-me como se estivesse a entrar na casa dos meninos da Terra do Nunca do Peter Pan, mas que estes meninos tinham crescido e não gostaram nada do mundo em que agora se encontravam, e então reuniram-se numa casa abandonada e rejeitaram a sociedade lá fora.
Um indivíduo vestido de vaca fazia a gestão dos meios de comunicação que entravam ou saíam da comuna, as pessoas a quem os media se dirigiam eram "hippies" já na casa dos 60, com cabelos coloridos e adereços dignos do Jimi Hendrix, com um discurso ligeiramente utópico. Enquanto isso, os membros mais jovens circulavam com bandanas a tapar a cara, máscaras do V for Vendetta, outros a dançar descalços sobre o alcatrão, e pareciam estar um bocado desconfortáveis com a minha presença.
Ou melhor, eu estava desconfortável com a minha presença ali e achei melhor retirar-me. Saí com sentimentos algo ambíguos relativamente ao movimento Occupy.