Era Uma Vez na Anatólia

É a Turquia e todos eles são turcos, turcos da cidade e turcos do campo (oposição importante dentro do filme), mas Ceylan não quer necessariamente que o espectador fique agarrado a essa chave, ou condenado a “ler” o filme à procura da descodificação do que ele quer dizer “sobre a Turquia”. Até nos esquecemos disso, e naquele grupo de personagens, de ecletismo tão hawksiano, que passa o filme como se estivesse num western (são cowboys e índios, em sentido menos figurado do que possa parecer) a avançar por uma paisagem de “fronteira”, impõe-se menos o “género turco” do que o género humano, e dentro deste, muito especialmente, o género masculino.

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É a Turquia e todos eles são turcos, turcos da cidade e turcos do campo (oposição importante dentro do filme), mas Ceylan não quer necessariamente que o espectador fique agarrado a essa chave, ou condenado a “ler” o filme à procura da descodificação do que ele quer dizer “sobre a Turquia”. Até nos esquecemos disso, e naquele grupo de personagens, de ecletismo tão hawksiano, que passa o filme como se estivesse num western (são cowboys e índios, em sentido menos figurado do que possa parecer) a avançar por uma paisagem de “fronteira”, impõe-se menos o “género turco” do que o género humano, e dentro deste, muito especialmente, o género masculino.


O ensemble é muito bem desenhado e conduzido, em estirpe quase clássica (lembra, por vezes, Angelopoulos, com menos rodriguinhos), e o tempero melancólico da maneira como Ceylan filma a noite e a madrugada (e os seus “climas”, ventosos e húmidos) garante o prazer de um filme que, se não é de facto outro Climas, também não serve para arrumar o seu autor a um canto.