Metade dos prisioneiros palestinianos de Israel está em greve de fome

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Protesto de palestinianos perto da prisão de Ofer na Cisjordânia Mohamad Torokman/Reuters

As eleições presidenciais e legislativas marcadas para hoje na Cisjordânia e Faixa de Gaza foram adiadas por falta de acordo entre a Fatah e o Hamas. O único lugar onde as duas facções rivais se entendem é nas 19 cadeias israelitas onde cerca de 2500 prisioneiros palestinianos, de um total de 4610, estão em greve de fome, segundo a organização Addameer, que os apoia. O movimento foi designado por Karameh (Dignidade) ou "Batalha dos Estômagos Vazios". O Serviço Prisional de Israel só confirma o jejum de 1500 reclusos.

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As eleições presidenciais e legislativas marcadas para hoje na Cisjordânia e Faixa de Gaza foram adiadas por falta de acordo entre a Fatah e o Hamas. O único lugar onde as duas facções rivais se entendem é nas 19 cadeias israelitas onde cerca de 2500 prisioneiros palestinianos, de um total de 4610, estão em greve de fome, segundo a organização Addameer, que os apoia. O movimento foi designado por Karameh (Dignidade) ou "Batalha dos Estômagos Vazios". O Serviço Prisional de Israel só confirma o jejum de 1500 reclusos.

É o maior acto de resistência à ocupação desde a segunda e sangrenta Intifada em 2000, só que desta vez é um protesto pacífico. Nenhum dos grevistas pede a liberdade. Entre as suas principais reivindicações, estão o fim dos castigos em celas solitárias e das detenções sem julgamento (322 - mais 50% do que em 2011). Mas também o direito a melhores condições de alimentação, saúde e higiene pessoal, livros, jornais e visitas de familiares (há sete anos que os presos de Gaza não vêem os seus parentes).

Desde a guerra de 1967, cerca de 750 mil palestinianos, incluindo 23 mil mulheres e 25 mil crianças, estiveram numa prisão israelita, segundo dados das Nações Unidas. Estes números representam 20% de toda a população e 40% dos homens da Cisjordânia e da Faixa de Gaza – ou seja um em cada cinco habitantes, segundo o relator especial da ONU para os territórios ocupados, o norte-americano Richard Falk.

O jejum em massa começou com 1200 reclusos, a 17 de Abril, Dia do Prisioneiro Palestiniano. "Há pelo menos dez grevistas internados nas enfermarias das prisões, onde estão acorrentados às camas, e um foi transferido para um hospital civil", detalhou ao PÚBLICO, por telefone, Julia Kessler, da organização Addameer. Entre os que correm perigo de vida imediato estão Bilal Diab, de 27 anos, e Thaer Halahleh, de 33 - este em detenção administrativa oito vezes em seis anos e meio. Membros da Jihad Islâmica, ambos entram hoje no 67.º dia sem comer. Recorreram a um tribunal militar israelita por nunca terem sido acusados de qualquer crime, mas o seu apelo foi recusado. Ontem, compareceram em cadeiras de rodas perante um painel de juízes do Supremo Tribunal. Os magistrados adiaram o veredicto, alegando que têm de rever um "dossier secreto".

Em cadeias sobrelotadas – só uma delas na Cisjordânia e as restantes em Israel, o que é considerado uma violação das convenções internacionais sobre territórios ocupados –, os prisioneiros palestinianos "estão quase completamente isolados do mundo exterior", denuncia a Addameer. Não têm, por exemplo, pasta dos dentes. Os únicos medicamentos disponíveis são analgésicos e tranquilizantes, o que provoca doenças crónicas e debilitantes. Os cobertores das enxergas de tábuas raramente são lavados, tal como as suas vestes. As celas não são ventiladas. Crianças de 10 anos são tratadas como adultos.

Os que recusam ser alimentados, segundo a Addameer, que colabora com a organização Physicians for Human Rights Israel (PHR), estão a ser submetidos a castigos adicionais, como o pagamento de 50 a 100 euros por cada dia de greve. Na cadeia de Naqab, por exemplo, há inspecções diárias que incluem revistar o corpo durante 40 a 50 minutos.

"No passado, quando os palestinianos recorreram a formas violentas de resistência, o Ocidente catalogou-os como terroristas, mas quando eles usam a não-violência, como uma greve de fome, as suas acções são ignoradas", lamentou Falk, o relator da ONU. "Há uma propaganda concertada para mostrar esta resistência como ilegítima, um truque barato para ganhar simpatia ou um truque sujo para destruir o Estado de Israel."

As fontes de inspiração para os grevistas foram Khader Adnan e Hana Shalab, ele e ela libertados – na condição de serem deportados para Gaza – ao fim de 63 e 43 dias sem comer, respectivamente. Ambos protestaram contra a sua detenção sem culpa formada – medida penal que Israel conservou do Mandato Britânico da Palestina. Shalabi não poderá voltar à sua aldeia na Cisjordânia durante três anos. Foi como trocar uma prisão por outra.

Jogo da submissão

"A grande maioria dos israelitas classifica todos os presos palestinianos como assassinos sem alma ou simplesmente terroristas, no mínimo", escreveu Amira Hass no diário Há"aretz, de Televive. "Pouco lhes interessa actos de coragem individual ou colectiva da parte dos detidos palestinianos que servem como lembrança de que eles são seres humanos",

"Quando [o soldado israelita] Gilad Shalit estava cativo em Gaza, o cancelamento das visitas aos presos de Gaza foi apresentado como "pressão proporcional". Após a sua libertação, os israelitas não se importam que este tipo de proporcionalidade se mantenha e que as visitas dos familiares continuem suspensas. (...) O nome do jogo é submissão."

Hass prossegue: "Os prisioneiros palestinianos são mencionados pelo número de penas perpétuas que cumprem. Mas os venerados generais do Exército israelita, no activo ou na reserva, são responsáveis pela morte de mais civis palestinianos (e libaneses) do que o número de civis israelitas mortos pelos prisioneiros palestinianos. A História (....) já não é apenas escrita pelos vencedores. Mas os conquistadores ainda decidem quem é o herói, quem é o soldado que age como juiz e quem é o réu que é declarado terrorista ainda antes de ser condenado."

Correspondente do Ha'aretz durante vários anos em Gaza – a única jornalista israelita nessa missão, Amira Hass conclui: "Quando se trata dos palestinianos, a prisão tem de ser uma vingança infindável que prolonga o que Israel tenta também fazer fora das suas muralhas: quebrar o colectivo, enfraquecer o indivíduo, prevenir outros de resistirem a um regime estrangeiro. A greve de fome é, de facto, um protesto contra estes objectivos."