Avaliado estatuto de conservação do lince-ibérico, para uma situação melhor
saída do lince-ibérico da lista das espécies criticamente em perigo de extinção está a ser ponderada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), devido aos esforços de conservação na Andaluzia. Se o estatuto mudar, o lince-ibérico passará para espécie em perigo de extinção.
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saída do lince-ibérico da lista das espécies criticamente em perigo de extinção está a ser ponderada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), devido aos esforços de conservação na Andaluzia. Se o estatuto mudar, o lince-ibérico passará para espécie em perigo de extinção.
Os três pilares da conservação do lince-ibérico – a população selvagem, a reintrodução de animais na natureza e o programa de reprodução em cativeiro – estão a registar uma evolução "espantosa", disse neste domingo à agência espanhola Europa Press o suíço Urs Breitenmoser, co-presidente da UICN e que, nesta organização, é presidente do grupo de especialistas em felinos. Este perito esteve nos últimos dias em Espanha para avaliar o que está a ser feito para travar o desaparecimento do felino mais ameaçado do planeta, o Lynx pardinus.
Desde 2002, o lince-ibérico está classificado como criticamente em perigo de extinção na Lista Vermelha da UICN. A redução drástica das populações de coelho-bravo, a sua principal presa, por causa de duas doenças, a mixomatose (surgida na década de 1950) e a febre hemorrágica viral (década 1980), é apontada como a maior ameaça ao lince. Mas não a única. A sua situação é explicada ainda pela destruição do habitat - o matagal mediterrânico -, pela perseguição directa e por atropelamentos.
Urs Breitenmoser contactou no terreno com os técnicos de conservação da espécie. “Estou realmente satisfeito com o trabalho que está a ser feito na Andaluzia”, disse este especialista, que também é investigador da Universidade de Berna e trabalha na conservação do lince-ibérico desde 2001. Por isso, anunciou, a UICN “está a ponderar a possibilidade de baixar a categoria de protecção do lince-ibérico de ‘criticamente em perigo para ‘em perigo’ de extinção”.
O último censo, de 2011, estima que vivem em liberdade 312 linces-ibéricos em Espanha, mais 37 animais do que no ano anterior e mais 218 do que em 2002, ano em que apenas restavam 94 linces.
Para Urs Breitenmoser, é “especialmente significativo” que as duas grandes populações deste felino, em Doñana-Aljarafe e na Serra Morena (Andújar-Cardeña), estejam a crescer há alguns anos e que as áreas de reintrodução em Córdova (Guadalmellato) e Jaén (Guarrizas) estejam a perfilar-se como zonas que, “em breve, possam acolher mais linces”.
O especialista destacou ainda o papel “tão importante” do programa de reprodução em cativeiro ex situ, que está a reforçar as populações naturais.
Nem tudo está feito
Urs Breitenmoser preferiu não adiantar mais informações sobre a questão, dado que ainda é preciso analisar todos os dados científicos. No entanto, salientou que não gostaria de ser mal interpretado, uma vez que uma espécie ‘em perigo de extinção’ ainda corre riscos. “O trabalho feito não é senão uma pequena parte do que ainda nos falta fazer”, disse, referindo-se especialmente ao apoio da sociedade à conservação do lince. Na sua opinião, as populações humanas precisam de perceber que este projecto oferece possibilidades de progresso e desenvolvimento, porque a conservação de uma espécie única no mundo “também pode criar postos de trabalho”. Em tempos de dificuldade económica é “ainda mais importante que nunca” que a sociedade receba mensagens positivas, como esta. “É importante que as pessoas falem de Espanha não só como o país que acolhe a selecção que ganhou o Mundial de Futebol”, disse Urs Breitenmoser. A conservação do lince-ibérico “é uma grande oportunidade para dar uma imagem de Espanha excelente a todo o mundo”.
Ainda assim, considera que a possibilidade de baixar o estatuto de ameaça era algo “impensável” há dez anos, quando “todos sonhávamos com esta possibilidade”.
Em Portugal, a espécie está virtualmente extinta. De momento avançam vários projectos de recuperação do habitat natural do lince, entre os quais na região de Moura/Barrancos e na Serra da Malcata. Na outra vertente, na conservação ex situ, o Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince-Ibérico, na Herdade das Santinhas, em Silves, inaugurado em Maio de 2009, recebeu o primeiro animal a 25 de Outubro de 2009. Era a Azahar, uma fêmea cujo nome quer dizer "flor de laranjeira". Actualmente, vivem em Silves 18 linces (nove fêmeas e nove machos). Este número ainda não inclui as 17 crias que nasceram nesta época reprodutora.
As categorias em causa:
Criticamente em Perigo: quando se considera que a espécie enfrenta um risco de extinção na Natureza extremamente elevado.
Em Perigo: quando se considera que a espécie enfrenta um risco de extinção na Natureza muito elevado.
Segundo a UICN, a atribuição de um estatuto de ameaça assenta na avaliação de cinco critérios: redução da população (no passado, presente e futuro); dimensão da distribuição geográfica e fragmentação, declínio ou flutuação; efectivo populacional reduzido e fragmentação, declínio ou flutuação; população muito pequena ou distribuição muito restrita e análise quantitativa do risco de extinção.