Ainda bem que há coincidências

Aconteceu, então, de eu ter estado na Noite do Manifesto, no Teatro Municipal Maria Matos, a ver um rol de actores ler, performar, cantar, um total de 14 manifestos

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Os tempos que correm já todos sabemos quais são e sabemos também que é por causa deles que vemos (res)surgir algumas tendências como o revivalismo, o estilo de vida minimalista, ou a tendência a procurar relações de causalidade entre as coisas que nos acontecem (não deve ser por acaso que a série "Touch", por exemplo, surge nesta altura), como se precisássemos, mais do que nunca, de nos sentir parte de alguma coisa.

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Os tempos que correm já todos sabemos quais são e sabemos também que é por causa deles que vemos (res)surgir algumas tendências como o revivalismo, o estilo de vida minimalista, ou a tendência a procurar relações de causalidade entre as coisas que nos acontecem (não deve ser por acaso que a série "Touch", por exemplo, surge nesta altura), como se precisássemos, mais do que nunca, de nos sentir parte de alguma coisa.

No que me diz respeito a única tendência revivalista de que sofro são os anos 80, mais precisamente a música (é arriscado dizer isto, eu sei, porque a música dos anos 80 já passou de moda, outra vez, mas eu vou sempre comover-me com o “Forever Young”, dos Alphaville). Quanto ao estilo de vida minimalista é quase natural em mim, porque odeio fazer compras de toda a espécie e, à excepção da comida e bebida, vivo bem sem excessos. Já os mistérios da vida, isso é outra história.

Só isso, essa minha quase obsessão por tentar perceber por que é que as coisas acontecem de uma determinada forma e não de outra, pode justificar o grande número de coincidências que se atravessam à minha frente. São coisas, quase sempre, sem importância absolutamente nenhuma, mas, lá está, são suficientes para me fazerem sentir que há uma explicação, algures, para esta confusão toda que é a bem dizer a vida.

Aconteceu, então, de eu ter estado na Noite do Manifesto, no Teatro Municipal Maria Matos, a ver um rol de actores ler, performar, cantar, um total de 14 manifestos. Pelo meio comi carne de vaca crua, depois de me ter cruzado com a manifestação pelos direitos dos animais, mas a comida do chef Luís Baena, que foi servida nos intervalos dos manifestos, dá uma outra crónica.

Também me perdi antes de chegar ao teatro, porque eu e o metro de Lisboa temos uma relação complicada, mas honestamente não sei que influência terá tido esse pormenor no decorrer do serão.

A coincidência de que quero falar é a de ter encontrado este site, por causa do manifesto apresentado por Lula Pena. A artista levou o “Manifesto for Maintenance Art” de Mierle Laderman Ukeles, de 1969, e numa performance absolutamente sublime, que consistiu em levantar as malgas e as mini colheres de pau onde tínhamos comido “Ceviche peruano de Pargo, gelado de limão com azoto líquido” e “Tártaro de novilho com gema trufada, botão de sechuan”, ao som de uma entrevista a Ukeles sobre o Manifesto.

À medida que Pena ia levantado a loiça, tentava intervir na conversa gravada, sem sucesso, e por fim terminou com a pergunta: “Excuse me, I just want to know: after the revolution, who’s going to pick up the garbage on Monday Morning”, que é uma das frases que consta no Manifesto.

E qual é a coincidência, afinal? Perguntam. Pois, as coincidências têm essa particularidade, a de serem importantes apenas para nós próprios. E para mim é importante saber que há artistas a pensar/criar/revolucionar o espaço doméstico (um tema tão caro à minha pessoa) ao mesmo tempo que eu. Ainda que da minha parte não saia nada de muito artístico.