Na Terra...
Angelina Jolie estreia-se como realizadora com um filme rodado na Bósnia, sobre a guerra da Jugoslávia, falado na língua local e sem sombra de actores hollywoodianos (há um figurante, uma vítima de um sniper, que parece o marido Brad Pitt bem disfarçado - se for mesmo, e como não é nada sublinhado, o gesto até tem um certo sentido). Tudo isto configura uma intenção suficientemente inesperada para que se leve a sério. E sai obra séria, eficaz quanto baste, melhor do que fariam muitos tarefeiros de Hollywood, dramaturgicamente equilibrada, com personagens fortes e cast bem achado - o que não significa necessariamente que se sinta a presença de uma personalidade a trabalhar o filme, o seu estilo e a visão do mundo (e do cinema) decorrente. Sobre a guerra propriamente dita, ainda está por se bater o Carnaval demoníaco do Underground de Kusturica (e para que alguém dela faça o Saló que ela exige talvez ainda tenha que se esperar uns anos); sem escapar aos clichés porventura inevitáveis - os sérvios vesgos de ódio - Angelina desloca o centro do filme para a intimidade de uma história de amor impossível, entre um militar sérvio e uma rapariga muçulmana. E sobretudo na segunda parte do filme, quando a rapariga é a “cativa” dele, num castelo povoado por ogres, esgravata-se o território de um amor doentiamente fou com ressonâncias que ultrapassam em muito a guerra jugoslava. Dir-se-á que o olhar de Angelina, mesmo sobre essa história, é de uma correcção quase escolar, e que isso lhe corta as asas; será assim, mas é inegável que consegue tirar dos actores (daquele par, em especial) o suficiente para o disfarçar bem.
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Angelina Jolie estreia-se como realizadora com um filme rodado na Bósnia, sobre a guerra da Jugoslávia, falado na língua local e sem sombra de actores hollywoodianos (há um figurante, uma vítima de um sniper, que parece o marido Brad Pitt bem disfarçado - se for mesmo, e como não é nada sublinhado, o gesto até tem um certo sentido). Tudo isto configura uma intenção suficientemente inesperada para que se leve a sério. E sai obra séria, eficaz quanto baste, melhor do que fariam muitos tarefeiros de Hollywood, dramaturgicamente equilibrada, com personagens fortes e cast bem achado - o que não significa necessariamente que se sinta a presença de uma personalidade a trabalhar o filme, o seu estilo e a visão do mundo (e do cinema) decorrente. Sobre a guerra propriamente dita, ainda está por se bater o Carnaval demoníaco do Underground de Kusturica (e para que alguém dela faça o Saló que ela exige talvez ainda tenha que se esperar uns anos); sem escapar aos clichés porventura inevitáveis - os sérvios vesgos de ódio - Angelina desloca o centro do filme para a intimidade de uma história de amor impossível, entre um militar sérvio e uma rapariga muçulmana. E sobretudo na segunda parte do filme, quando a rapariga é a “cativa” dele, num castelo povoado por ogres, esgravata-se o território de um amor doentiamente fou com ressonâncias que ultrapassam em muito a guerra jugoslava. Dir-se-á que o olhar de Angelina, mesmo sobre essa história, é de uma correcção quase escolar, e que isso lhe corta as asas; será assim, mas é inegável que consegue tirar dos actores (daquele par, em especial) o suficiente para o disfarçar bem.