Jogos: a nova aventura é programar para o mercado indie
Têm uma paixão doida por videojogos e largos conhecimentos de programação e design. Querem desenvolver uma indústria de jogos indie e levar a produção nacional além-fronteiras
Há muito tempo que os videojogos deixaram de ser apenas uma fonte de entretenimento para passarem a ser vistos como uma das mais poderosas ferramentas de comunicação. Em Portugal, ainda se ignora o volume de produção e qualidade do que se faz, mas os "smartphones", "tablets" e outras plataformas móveis vieram permitir a democratização na produção destes jogos, fomentado uma indústria independente que tem dado muito que falar.
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Há muito tempo que os videojogos deixaram de ser apenas uma fonte de entretenimento para passarem a ser vistos como uma das mais poderosas ferramentas de comunicação. Em Portugal, ainda se ignora o volume de produção e qualidade do que se faz, mas os "smartphones", "tablets" e outras plataformas móveis vieram permitir a democratização na produção destes jogos, fomentado uma indústria independente que tem dado muito que falar.
Só entre 2010 e 2011, foram criados mais de 80 videojogos independentes e nacionais para todo o tipo de plataformas. Mas além da quantidade, há a qualidade. Estes jogos indie, desenvolvidos por três ou quatro pessoas com um orçamento muito reduzido, são cada vez mais realistas.
Tiago Fernandes tem 24 anos e é professor assistente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, instituição onde estudou Engenharia Informática, mas o gosto pelos videojogos já vem de trás. Aos oito anos sentiu, não só a necessidade de jogar, como a de criar os seus próprios jogos. Pegou em livros de computação gráfica, aprendeu a programar e rapidamente estava a fazer jogos “para andar a matar coisas”, de plataforma “tipo Super Mário”.
Tiago teve mesmo alguns jogos vendidos para plataformas móveis, mas entretanto dedicou-se ao ensino e a outros projectos. Agora, investiga na área dos jogos para autistas num projecto da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e desenvolve plataformas para outros poderem desenvolver os seus próprios jogos indie.
“Os jogadores apaixonaram-se por estes novos jogos de uma maneira que já não acontecia com os jogos comerciais”, afirma. As grandes editoras e produtoras “começaram a focar-se em jogos com grandes gráficos, uma história imensa, mas sem jogabilidade. Entretanto, grupos mais pequenos começaram a criar uma jogabilidade nova e a aplicá-la em conceitos próprios com um design normalmente muito artístico".
"O interesse é fazer jogos"
A Castaway Team é um destes pequenos grupos de pessoas que se conhecem há muito tempo e que partilham a paixão pelos videojogos. Um dia, decidiram criar o seu próprio projecto. “Nenhum de nós sabia o que estava a fazer”, conta Pedro Cardial, programador da equipa e mestrando em Arquitectura. Começaram com alguns projectos que nunca foram a lado nenhum, até conseguirem o financiamento de uma empresa espanhola.
“A ideia era fazer um jogo casual, muito fácil de jogar e de desenvolver”, conta Pedro. Surgiu o Panic Plane, que se joga só com um botão e foi inspirado no piloto Chesley B. Sullenberger, do episódio no rio Hudson, em 2009. O investimento em jogos deste tipo ainda não é muito usual, mas o Panic Plane conseguiu ter apoio orçamental por parte de uma empresa espanhola. Foi uma "alavanca que permitiu que as coisas realmente acontecessem", explica Pedro, ainda que tenha sido um financiamento "muito reduzido para o trabalho desenvolvido e a sua especificidade". O jogo foi posto à venda na “App Store” da Apple e, mesmo não superando as expectativas, rapidamente conseguiu o primeiro lugar de vendas da secção “Arcade” e o segundo nas vendas gerais de jogos do mercado português.
Apesar das oito semanas de trabalho intenso durante sete horas por dia sem grande retorno, a paixão mantém-se. Neste momento, a equipa está a desenvolver um jogo de distribuição grátis ”só pela vontade de fazer alguma coisa”. Apesar da empresa ponderar recorrer ao "crowdfunding", que tem alimentado muitos projectos do mercado indie lá fora, Portugal parece ainda não estar preparado para receber este tipo de iniciativas. Com ou sem grande orçamento, “o interesse é fazer jogos”, garante Pedro. Ou não fossem jogos indie.
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