Francisca Almeida: “a política não é uma carreira, nem tão pouco uma profissão”

Tem 28 anos, é orgulhosamente vimaranense e tenta "com muito esforço" conciliar a advocacia com a actividade parlamentar. É vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e criou um site próprio para se aproximar dos eleitores

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Os mandatos dos deputados deviam ser limitados, considera a deputada Pedro Cunha

Continua a conciliar a advocacia com a actividade parlamentar?

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Continua a conciliar a advocacia com a actividade parlamentar?

Tento, com muito esforço. Há alturas em que é quase inconciliável pelo volume de trabalho no Parlamento. Foi quase uma travagem na minha actividade profissional, mas conto regressar a tempo inteiro.

A tempo inteiro?

A ideia é não perder uma ligação à advocacia e não ficar desligada daquela que é a minha actividade profissional. 

As pessoas e valores que saem desses movimentos cívicos podem dar um contributo muito importante à política e aos partidos

Não vai continuar na política no futuro?

A adopção por homossexuais é uma questão de tempo, acredita Francisca, que votou a favor dos projectos de lei

Eu quando era advogada a tempo inteiro não tinha abandonado a política: estava na Assembleia Municipal de Guimarães, que é uma coisa absolutamente conciliável. O que eu acho é que a política não é uma carreira. Eu não posso esperar viver até aos 60, 70 anos a saltar de cargo em cargo político porque a política é um momento em que estamos disponíveis para dar o melhor de nós próprios — é essa a minha visão — à vida pública e ao serviço público, mas não é propriamente uma carreira, nem é tão pouco uma profissão. Aliás, acho que os mandatos dos deputados deviam ser limitados, como os dos autarcas. Aos 28 anos dizer que vou abandonar uma profissão cria um factor de risco muito grande.

Como é ter 28 anos e ser vice-presidente do grupo parlamentar do PSD?

É errado tentar fazer essa associação entre a idade e as responsabilidades que se assumem porque não acho que a idade deva ser vista como um "handicap". Há um certo paternalismo que às vezes me irrita um bocadinho. Eu quero que o meu trabalho seja avaliado no mesmo patamar que os meus restantes colegas, tenham eles as idades que tenham.

Tem um site próprio onde publica toda a sua actividade política. Há aqui uma preocupação em chegar às pessoas? 

É evidente. Sente-se muito o divórcio entre eleitos e eleitores e por muito que o Parlamento tenha um site em que disponibiliza um conjunto variadíssimo de informação, a verdade é que acho que está do nosso lado, dos agentes políticos, propiciar aos eleitores o escrutínio sobre a actividade política. No final poderão dizer se foi boa, se foi má, mas nao poderão dizer que a desconhecem.

  

Numa crónica que publicou diz que a Capital Europeia da Cultura não é no Norte, mas sim em Guimarães. É importante esta diferença?

É. Se estivermos em Lisboa, essa diferença é importante. Entra-se no táxi e dizem: "nota-se que é do Porto!" Eu digo que sou de Guimarães e respondem — "ah, é a mesma coisa!" As pessoas têm um bocadinho a tendência de olharem para o Norte como uma entidade abstracta que fica lá para cima sem identidades próprias que é uma coisa que me irrita e que é profundamente injusta. Olhar para o Norte como se fosse uma massa uniforme que fica lá para cima, para além de revelar um absoluto desconhecimento do país, é absolutamente injusto e absolutamente incorrecto. Essa diferença é importante que se faça e eu faço-a quase todos os dias.

Também na Assembleia da República?

Na Assembleia vai sentindo-se menos porque, apesar de ser em Lisboa, os deputados são de todo o país e portanto muito ciosos dos sítios de onde vêm.