Uma realidade repleta de (des)oportunidades e (des)emprego
Enquanto jovens arquitectos, julgo que nos cabe denunciar e combater toda esta sobranceria liderada por um conjunto de arquitectos intelectualmente repelentes que tentam e demonstram ser humildes e constitucionalmente justos
O desemprego representa, independentemente da época, da sua escala ou da percentagem histórica atingida, um dos problemas mais gravosos e desconcertantes que envolve a nossa sociedade e, naturalmente, atormenta a esfera individual ou familiar daquele que, infeliz ou inesperadamente, contribui de um modo impotente para o seu aumento. Como tal, julgo que podemos afirmar, de uma forma peremptória, que um desempregado não pode, racionalmente, ser feliz ou ser alguém pessoalmente realizado.
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O desemprego representa, independentemente da época, da sua escala ou da percentagem histórica atingida, um dos problemas mais gravosos e desconcertantes que envolve a nossa sociedade e, naturalmente, atormenta a esfera individual ou familiar daquele que, infeliz ou inesperadamente, contribui de um modo impotente para o seu aumento. Como tal, julgo que podemos afirmar, de uma forma peremptória, que um desempregado não pode, racionalmente, ser feliz ou ser alguém pessoalmente realizado.
Embora a temática do desemprego, assim como tudo aquilo que a constitui, mereça, social e politicamente, um destaque muito mais elevado e global, eu gostaria de discutir ou reflectir sobre o fenómeno do desemprego associado à área disciplinar em que me insiro, ou seja, à Arquitectura.
A Arquitectura, assim como todos os intervenientes que a compõem, encontram-se, actualmente, num estado crítico e a ceder perante um conjunto de adversidades políticas, sociais e económicas que, de um modo progressivo, vão "aterrorizando" ou deteriorando a área. Por conseguinte, considerando a falta de investimento ou os escassos actos impulsionadores e revitalizantes, a actual prática arquitectónica nacional encontra-se, assim, adormecida ou parcialmente paralisada.
No seguimento do que foi referido anteriormente, considero que a única solução que me resta, a mim e aos restantes milhares que se encontram desempregados ou a ser explorados por um conjunto de "fidalgos abutres" que se apoderaram, profissional e semanticamente, da palavra crise, é emigrar.
Apesar de não possuir uma grande amostra ou uma vasta experiência para poder generalizar algo, é com alguma revolta que verifico, após uma série de entrevistas e propostas, que os arquitectos empregadores, salvo raras excepções, são os primeiros, gananciosamente, a querer tirar vantagem da denominada crise e, sobretudo, do momento precário e indefinido em os recém-licenciados se encontram.
Estes "bárbaros" (e quando digo estes acredito verdadeiramente que não seja a minoria), com o intuito de nos atraírem profissionalmente para seu benefício próprio, tentam aliciar-nos através de um conjunto de falsas promessas constituídas por várias inverdades ou falácias que em nada dignificam ou enaltecem a nobre e generosa disciplina que é a Arquitectura.
De um modo geral, as propostas referidas anteriormente resultam, sistematicamente, em trabalho, a tempo inteiro, não remunerado que, dependendo do calendário laboral, pode ocupar inclusivamente fins-de-semana, feriados, etc. Tudo isto é, inadmissivelmente, aceite porque somos constantemente iludidos com promessas referentes a algum tipo de pagamento – que tarda ou provavelmente não chega – e com algumas perspectivas de futuro ou de continuidade. Por vezes, ainda têm a ousadia de nos aliciar com um argumento repugnante que é: "Sabe que estão vários colegas seus à espera desta oportunidade".
Todavia, enquanto jovens arquitectos, julgo que nos cabe denunciar e combater toda esta sobranceria liderada por um conjunto de arquitectos intelectualmente repelentes que tentam e demonstram ser, perante uma vasta comunidade de arquitectos, humildes e constitucionalmente justos.
Gostaria de salvaguardar que, embora o nosso processo de formação, pessoal e académico, seja cada vez mais caracterizado por conceitos como o global, a flexibilidade, a adaptabilidade ou a mobilidade, é com alguma mágoa e tristeza que me mentalizo que o meu futuro não passa pelo pais ou pela cidade onde nasci, e da qual sou parte integrante.
Em suma, gostaria de frisar que, apesar de não propor ou sugerir alguma solução para este grave problema específico, julgo que reflectir sobre o fenómeno já pode ser uma ajuda ou o início de algo produtivo e desejado. O desemprego é, consensualmente, um tema sobre o qual nos deveríamos interessar e debruçar constantemente para o bem de toda uma geração jovem, ambiciosa e perseverante.