Espaço Bloom: jovens criadores sem apoios das indústrias para criar colecções
O designer Miguel Flor acusa o sector do calçado e do têxtil de fechar portas aos jovens criadores. Portugal Fashion termina este sábado na Alfândega do Porto
Os jovens criadores de moda portugueses têm dificuldade em conseguir tecidos e calçado nacionais porque não há sinergias entre os sectores industriais e estilistas emergentes, denuncia Miguel Flor, designer e responsável pelo "Espaço Bloom" do Portugal Fashion.
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Os jovens criadores de moda portugueses têm dificuldade em conseguir tecidos e calçado nacionais porque não há sinergias entre os sectores industriais e estilistas emergentes, denuncia Miguel Flor, designer e responsável pelo "Espaço Bloom" do Portugal Fashion.
“As portas não são abertas com facilidade. É muito difícil as empresas darem tecidos ou venderem mais barato e os fabricantes de sapatos também não apoiam e os criadores vêem-se muito aflitos para encontrar parceiros que emprestem ou façam sapatos nacionais para o certame”, explica o responsável pela plataforma de projecção de jovens talentos desde a sua criação, em 2010, em entrevista à Agência Lusa.
À margem do Portugal Fashion, evento de moda que encerra este sábado na Alfândega do Porto, Miguel Flor acusa os responsáveis do sector do calçado e do têxtil de fechar portas aos jovens criadores que estão no início de carreira e que precisam de matéria-prima para criar as suas colecções e apresentá-las no certame. Por isso, pede mais coordenação. “Era bom que este ‘Bloom’ fosse uma sinergia entre todos”, referiu o também professor de moda, afirmando que a sua declaração, “mais do que um alerta, é um pedido”.
No seu entender, os jovens criadores ficam à mercê dos apoios dos pais, que se sacrificam para os filhos perseguirem o sonho de criar moda. A falta de recursos monetários e a crise instalada levam os criadores a apostar em tecidos mais baratos e nacionais nas suas colecções. “Não conheço casos de empréstimo nos bancos, mas são os pais dos jovens criadores que lhes dão dinheiro ou emprestam”, conta Miguel Flor, alertando os responsáveis da indústria para prestar “alguma atenção sobre estes trabalhos” apresentados na plataforma destinada a novos designers e a partir da qual alguns criadores já estão em processo de consolidação do seu trabalho.
Uma rampa de lançamento
O "Espaço Bloom" foi criado em 2010 e a ideia original foi de Manuel Teixeira, da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), a entidade responsável pela organização do Portugal Fashion. Segundo o coordenador do "Bloom" ("florescer") já passaram por aquela plataforma dezenas de jovens criadores, designadamente a nível individual, como no caso de Estelita Mendonça, Daniela Barros, Hugo Costa ou Susana Bettencourt (que apresenta "showrooms" em Londres e Paris).
“É uma boa rampa de lançamento, mas não é só para marca de autor, a ideia é que outros designers possam ter um olho sobre eles através do ‘Bloom’ e possam convidá-los a fazer parte integrante das equipas, a fazer estágios ou 'workshops'”, observa Miguel Flor.
A 30.ª edição do Portugal Fashion, cujo tema é "Cross" ("cruzamentos") e que abriu na quarta-feira em Lisboa, termina hoje, sábado, na Alfândega do Porto com a revelação das colecções Outono/Inverno para 2012-2013 de Fátima Lopes, Dielmar, Luís Onofre, Katty Xiomara, Lion of Porches e novas tendências do sector do calçado português.
Paralelamente, está patente a exposição "Quatro escolas de moda por quatro fotógrafas", uma nova visão do trabalho realizado por alguns alunos das escolas do Porto. Já o projecto "Arte no Portugal Fashion" propõe intervenções em dois espaços do evento. O Bloom recebe a instalação multimédia "Esfera de Espera", do Colectivo Manco, grupo de novos artistas e criativos formado por Ivo Teixeira, Luís Dourado, João Marrucho, Paulo Santos Rodrigo, Pedro Maia e Tiago Carneiro. Já na Sala Ribeira são exibidos os trabalhos de pintura, fotografia e escultura de Ana Cristina Leite, Filipe Marques, Isaque Pinheiro e João Noutel.