Cakes and Tapes
Gostamos de inquéritos. E de música. Decidimos encostar à parede pequenas editoras portuguesas. Diogo Soares Silva, da Cakes and Tapes, é o primeiro a responder ao FAQ
Ninguém vos disse que já não se vive da música?
A verdade faz-nos mais fortes
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Ninguém vos disse que já não se vive da música?
Por acaso, tenho colado na parede do quarto um recorte duma revista que diz: "Nunca vais conseguir viver da música." Não que tenha alguma vez pensado nisso. Também serve para me lembrar de que a Cakes and Tapes (C&T) provavelmente nunca passará de um "hobby", a tempo parcial ou inteiro, dependendo da minha disponibilidade. Felizmente, trabalho como investigador e ganho uns trocos para sustentar o passatempo.
Escolheram o nome da vossa editora numa noitada de Scrabble?
A realidade é que, em 23 anos, nunca joguei Scrabble. Uma vergonha. Foi o Fernando, de uma das grandes "netlabels" luso-japonesas, a MiMi Records, que sugeriu o nome. Às vezes perguntam-me pelos bolos, mas para já só faço mesmo cassetes.
Que bandas de outras editoras levariam para uma ilha deserta?
Levava os Spiritualized, os Current 93, os Calexico e o Jason Molina. Se conseguisse convencê-lo a ir para um sítio onde não há bebidas alcoólicas, claro. Também não me importava de levar as bandas todas da Constellation.
A vossa editora tem sotaque?
Já lançámos álbuns e EPs de artistas de oito nacionalidades. Mas, aqui no escritório da C&T, só se fala português com sotaque do Grande Porto. Por "escritório da C&T" quero dizer "o meu quarto e, às vezes, a sala", claro.
Quando é que foi a última vez que encheram os bolsos — e o ego?
Nunca enchemos os bolsos, mas agradecemos que os Yellow Ostrich se tenham tornado semi-famosos depois de terem assinado pela Barsuk. Somos uma espécie de Sporting das editoras: nunca ganhamos nada de especial, mas ficamos muito orgulhosos quando os nossos rapazes fazem sucesso após terem passado por cá.
Um álbum também se come com os olhos. Quem é o verdadeiro artista?
Hoje em dia, a embalagem pesa tanto quanto o conteúdo musical de uma obra na hora do consumidor gastar dinheiro em música num suporte físico. Daí a nossa preocupação em fazer as embalagens das cassetes à mão. Eu podia ganhar horas e horas de tempo livre pedindo ao fornecedor de cassetes que fizesse o esse trabalho todo por mim, mas o "hobby" perderia metade da piada. Limitar-me a enviar e receber e-mails, actualizar o Facebook e empacotar cassetes em envelopes almofadados nem sequer seria um "hobby".
Qual é o melhor sítio para ouvir música?
O melhor sítio para se ouvir música é o comboio, de preferência com auscultadores "in-ear" para evitar ouvir conversas sem assunto e "kizombadas" aos berros debitadas a partir do telemóvel da miúda com argolas gigantes sentada ao fundo da carruagem. É uma actividade que alia o prazer à utilidade e faz com que a viagem passe mais depressa, e só não levaria cinco estrelas no "Ípsilon" porque não há nada que possa fazer quanto ao cheiro que inunda o comboio à passagem por Cacia.
E que tal uma piada seca?
Não me parece de bom tom fazer piadas secas quando a ministra Assunção Cristas se vê obrigada a passar os dias a rezar para que chova.