“Efeito dominó” destrói a resistência de superbactérias aos antibióticos

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O MRSA é a principal causa de infecções hospitalares no mundo Nuno Ferreira santos (arquivo)

Os resultados desta equipa internacional (norte-americana, canadiana e portuguesa) podem abrir o caminho ao desenvolvimento de novas formas de combater a crescente ameaça destas “superbactérias”.

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Os resultados desta equipa internacional (norte-americana, canadiana e portuguesa) podem abrir o caminho ao desenvolvimento de novas formas de combater a crescente ameaça destas “superbactérias”.

O MRSA é a principal causa de infecções hospitalares no mundo. Em 2005, nos EUA, a mortalidade anual associada à esta bactéria ultrapassava a do VIH. E estas perigosas infecções também começam a surgir “na rua”, em pessoas saudáveis.

Os antibióticos correntes costumam ser derivados da penicilina, cefalosporinas, etc., e actuam destruindo a parede das células bacterianas. E como muitas bactérias desenvolvem resistência sintetizando uma enzima, a beta-lactamase, que destrói a estrutura molecular desses antibióticos, recorre-se à administração, ao mesmo tempo, de um inibidor dessa enzima. Mas no caso do estafilococo áureo, esta estratégia não funciona bem, porque “a beta-lactamase não é o mecanismo principal que gera resistência aos antibióticos”, escrevem os cientistas num artigo publicado nesta quarta-feira na revista Science Translational Medicine.

Estes investigadores procuraram uma forma de interferir com a actividade de certas proteínas indispensáveis ao estafilococo áureo, as PBP2 (penicillin-binding proteins), que são precisamente um dos alvos dos antibióticos. Para isso, tiveram de fazer um desvio: recorreram a uma pequena molécula, nome de código PC109723, capaz de inactivar uma outra proteína bacteriana, chamada FtsZ (essencial para a divisão das bactérias), e que é por sua vez indispensável ao funcionamento das PBP2. E mostraram, in vitro e in vivo, no ratinho, que quando submetiam o MRSA a um duplo tratamento com PC109723 e com um antibiótico chamado imipenem, o antibiótico tornava a ser capaz de surtir o seu efeito letal sobre a bactéria.

O contributo dos cientistas portugueses “consistiu em visualizar [em microscopia de fluorescência] o que acontece à proteína FtsZ e à proteína PBP2 nas células de Staphylococcus aureus quando lhe adicionamos esses compostos”, diz-nos Mariana Pinho. E o que constataram foi “que a maior parte da proteína PBP2, alvo do imipenem, deixa de estar no local de divisão da bactéria onde normalmente actua, logo deixa de poder realizar a sua função”, salienta. “O mecanismo de sinergia entre os dois compostos com actividade antibacteriana (PC109723 e imipenem) resulta do facto de o primeiro (PC109723) causar a deslocalização da proteína PBP2, que é o alvo do imipenem.” Ou seja, um autêntico “efeito dominó”.

Como os dois compostos actuam em sinergia, isso significa ainda, explica a revista em comunicado, que as doses necessárias de cada um para combater a infecção pelo estafilococo possam ser substancialmente reduzidas, sendo assim possível evitar eventuais efeitos secundários indesejáveis dos medicamentos.

Podem existir outras combinações de compostos que funcionam? “Sim”, responde Mariana Pinho, “e há vários grupos a trabalhar nesse sentido. Aliás, há uma combinação muito usada que consiste em ácido clavulânico e amoxicilina.” E será esta abordagem mais eficaz do que a procura de novos antibióticos para lutar contra as bactérias multirresistentes aos antibióticos actuais? “Esta abordagem é uma alternativa, não implica que não seja necessário continuar o desenvolvimento de vários antibióticos.”