Seis mil anos de arte numa feira em que a China ganhou aos EUA

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A rainha Beatriz da Holanda (em cima) visitou a feira na quarta-feira DR/Harry Heuts

Os corredores da feira internacional de arte e antiguidades de Maastricht, a Tefaf, foram buscar os nomes às ruas e praças de cidades como Paris, Londres e Nova Iorque. Na Place de la Concorde e na Madison Avenue cruzavam-se ontem dezenas de coleccionadores e curadores, alguns a disputar as mesmas pinturas, jóias e esculturas aos 268 galeristas - dois dos quais portugueses, Jorge Welsh e Luís Alegria - desta 25.ª edição.

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Os corredores da feira internacional de arte e antiguidades de Maastricht, a Tefaf, foram buscar os nomes às ruas e praças de cidades como Paris, Londres e Nova Iorque. Na Place de la Concorde e na Madison Avenue cruzavam-se ontem dezenas de coleccionadores e curadores, alguns a disputar as mesmas pinturas, jóias e esculturas aos 268 galeristas - dois dos quais portugueses, Jorge Welsh e Luís Alegria - desta 25.ª edição.

Ontem, tudo parecia tão movimentado como numa grande estação de comboios pela manhã, isto se conseguirmos imaginar uma gare em que só se entra respeitando um certo dress code.

O concorrido centro de imprensa é um reflexo da importância da Tefaf no mercado internacional de arte, tenha ela seis mil anos, como algumas das peças egípcias expostas, quer seja já de 2012, como a escultura do britânico Anish Kapoor que, com o seu azul brilhante, puxa os visitantes para as galerias Kukje e Tina Kim.

Os jornalistas asiáticos, tal como os coleccionadores e representantes de museus do Japão, de Singapura e sobretudo da China, estão em grande número. Não é de estranhar, já que, segundo o relatório sobre a evolução do comércio de arte e antiguidades nos últimos 25 anos feito pela economista cultural Clare McAndrew, a apresentar em detalhe na feira, a fatia do mercado global que coube aos chineses em 2011 foi de 30%, colocando-os pela primeira vez no topo, à frente dos americanos (29%), dos britânicos (22%) e dos franceses, com uns distantes 6% (os 27 países da União Europeia têm apenas mais 4% do mercado que a China).

A chegada da China ao primeiro lugar da lista, que inclui também as antiguidades, era esperada desde o ano passado, com este país já no topo no sector do moderno e do contemporâneo, que representa quase 70% do mercado da arte.

Os números não impressionam Jerome M. Eisenberg, director das galerias Royal Athena, que participa na Tefaf há 20 anos. Sendo um dos principais antiquários especializados em esculturas gregas, romanas, egípcias, etruscas e do Médio-Oriente, com lojas em Nova Iorque e Londres, Eisenberg não mudou muito de clientes. "Os coleccionadores que nos procuram são os mesmos", diz ao PÚBLICO, junto a uma vitrina repleta de pequenas estatuetas votivas e de delicados frascos de perfume em vidro em tons rosa e âmbar. "Continuamos a ter muitos americanos e europeus, os chineses não se interessam muito."

Na sua galeria, com mármores helénicos com mais de dois mil anos a ultrapassar os 300 mil euros, tem em destaque um pequeno guerreiro etrusco em bronze, com um manto sobre o ombro, um punhal na mão direita e uma lebre sacrifical na esquerda. É do século IV a.C. e é "uma peça rara, requintada", destinada a coleccionadores que "procuram e respeitam a beleza, e não vêem a arte apenas como um investimento".

Os destaques

Percorrer os corredores da Tefaf com pouco tempo é tarefa difícil. Os galeristas, garantem, guardam para a feira as suas melhores peças e a diversidade é tão grande, da arte da Polinésia aos impressionistas franceses, passando pelos contemporâneos alemães, os concretistas brasileiros, a pintura flamenga do século XVI e as iluminuras saídas de livros de horas medievais, que há sempre motivos de interesse.


Theo (assim, sem apelido) está na feira com a mulher. O casal holandês colecciona jóias e está a fazer a sua primeira ronda pelas galerias. Vêm comprar? "Costumamos fazê-lo, mas discutimos muito antes de decidir." Ambos ouviram já falar do pendente art nouveau de René Lalique, uma das peças mais mediatizadas desta edição, criada em ouro e diamantes (c. 1903), com quatro libelinhas e uma grande água-marinha no centro. "Seria maravilhoso ter uma peça Lalique, mas isso é só para grandes, grandes coleccionadores e museus", diz Theo.

As obras que a feira destaca criam um primeiro circuito, particularmente útil para estreantes. Deste conjunto de peças fazem parte, por exemplo, uma escultura em mármore negro em que o britânico Henry Moore parece subjugar a orgânica da figura reclinada às formas da própria pedra (Reclining Figure; Curved, 1977); The Potato Diggers, de Vincent van Gogh (Agosto de 1883, à venda por três milhões de euros); um livro de horas do flamengo Simon Bening (The Imhof Prayer Book, século XVI, 3,5 milhões de euros) e um candelabro da dinastia Han (209 a.C. - 220), associado a ritos funerários, disponível no holandês Vanderven & Vanderven, um dos antiquários mais conceituados no mercado da arte oriental.

Quando esteve em Janeiro em Lisboa a apresentar a Tefaf, Ben Janssens, presidente da comissão executiva e um dos galeristas, dedicado precisamente à arte do Oriente, fez questão de sublinhar ao PÚBLICO que, tendo-se consolidado graças às obras dos grandes mestres da pintura, a feira tem na renovação o seu principal desafio e na diversidade a melhor ferramenta para continuar a ser uma referência num mercado que evoluiu muito desde 1988 e que tem novos coleccionadores, com novos interesses.

Esta edição, que terá uma tulipa criada em laboratório especificamente para o aniversário, marca ainda o lançamento do fundo Tefaf para restauro, que vai conceder bolsas anualmente para projectos específicos de conservação. O Rijksmuseum de Amesterdão e o Museu de Art de Denver estreiam o novo programa.

O PÚBLICO viajou a convite da Tefaf, a feira de arte e antiguidades de Maastricht