Sheerwood Rowland, o cientista que salvou o planeta do buraco do ozono, morreu aos 84 anos
A descoberta de Frank Sheerwood Rowland é uma prova do poder da curiosidade. Em 1972, quando Rowland se interessou pelos clorofluorcarbonetos (CFCs), utilizados em diversos produtos, como as latas de spray, acreditava-se que estes compostos não reagiam com outras substâncias na atmosfera e que seriam bons, por exemplo, para estudar os movimentos atmosféricos.
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A descoberta de Frank Sheerwood Rowland é uma prova do poder da curiosidade. Em 1972, quando Rowland se interessou pelos clorofluorcarbonetos (CFCs), utilizados em diversos produtos, como as latas de spray, acreditava-se que estes compostos não reagiam com outras substâncias na atmosfera e que seriam bons, por exemplo, para estudar os movimentos atmosféricos.
“Como especialista em química cinética e como fotoquímico, sabia que este tipo de molécula não poderia manter-se inerte na atmosfera para sempre”, escreve na sua autobiografia, na página dos prémios Nobel. Por isso, no seu novo projecto da altura, perguntou: “O que é que acaba por acontecer aos compostos de CFCs na atmosfera?”
Rowland, que trabalhava na Universidade da Califórnia em Irvine, e Mario Molina, um investigador que terminara o doutoramento e integrou o laboratório do cientista, atiraram-se ao problema, mas chegaram a conclusões inesperadas e assustadoras.
“Eu e o Mario apercebemo-nos que não era uma questão científica, mas um grave problema ambiental em potência, que envolveria a depleção substancial da camada do ozono da estratosfera”, disse mais tarde Rowland sobre a sua descoberta, citado pela BBC News. “Sistemas biológicos inteiros, incluindo os humanos, poderiam estar em perigo devido aos raios ultravioleta.”
Menos de duas décadas depois, assinou-se o Protocolo de Montreal, onde se bania o uso dos CFCs. Em 1995 veio o Nobel, que foi partilhado com Molina, agora a trabalhar no Instituto de Massachusetts de Tecnologia (MIT) e ainda com o cientista Paul Crutzen, do Instituto Max Planck, na Alemanha.
“Perdemos o nosso melhor amigo e mentor”, disse Kenneth Janda, reitor de ciências físicas da Universidade da Califórnia em Irvine. “Ele salvou o mundo de uma catástrofe maior; nunca hesitando no seu compromisso com a ciência, com verdade e com a humanidade, e fê-lo com integridade e graça.”
Berço científicoFrank Sheerwood Rowland nasceu a 28 de Junho de 1927, na cidade de Delaware, em Ohio, depois de a família ter-se movido para ali, para o pai trabalhar com professor e presidente do departamento de Matemática na Universidade Wesleyan de Ohio.
Rowland viveu numa casa rodeada de livros e tinha facilidade em matemática e ciências. Terminou o ensino secundário mais rápido do que o normal, com 16 anos, algo que era possível naquele estado. Ainda em adolescente teve o primeiro cheiro da qualidade sistemática do trabalho científico e do estudo da atmosfera.
“Durante vários Verões na adolescência, o professor de ciências da escola secundária confiou-me durante as suas duas semanas de férias, a estação meteorológica voluntária local, uma parte auxiliar do serviço meteorológico dos Estados Unidos [que media] as temperaturas mínimas e máximas e a precipitação total. Foi a minha primeira exposição à experimentação sistemática e ao armazenamento de dados”, explicou na sua autobiografia.
Aos 16 anos, o jovem foi para a Universidade de Wesleyan onde estudou química, física e matemática. Mais tarde, depois da segunda guerra mundial ter acabado, escolheu a Universidade de Chicago para fazer o doutoramento. Lá, teve a oportunidade de aprender com os maiores especialistas de física atómica do mundo, que tinham saltado do Projecto Manhattan para a universidade. “Esta foi uma das alturas mais inacreditavelmente excitantes nas ciências físicas da Universidade de Chicago”, relembrou o Nobel.
Em 1952 casou-se com Joan Lundberg, com quem viveu quase 60 anos, junto tiveram dois filhos. Lundeberg partilhou com Rowland a luta pelo fim dos CFCs depois das descobertas da década de 1970, uma luta que nunca desistiu, mesmo tendo a indústria e parte do meio científico contra si.
Mario Molina relembra que o cientista nunca se acanhou em defender o que acreditava. “Ele mostrou-me que se nós acreditamos na ciência… devemos falar quando sentimos que é importante haver uma mudança na sociedade “, disse Molina, citado pela AP.
Em 1997, numa mesa redonda na Casa Branca, Rowland expôs o seu princípio: “Não será uma responsabilidade dos cientistas, se acreditam ter encontrado algo que pode afectar o ambiente, não é da sua responsabilidade fazer algo sobre isso, pelo menos o suficiente para que uma acção seja realmente tomada?”
“Se não nós, então quem? Se não agora, então quando?”