“O Arrependido” (“Out of the Past”), de Jacques Tourneur (1947)

“Out of the Past” pertence a esse género cinematográfico identificado como filme negro americano, cujo auge se verificaria nas décadas de 1930-40-50

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Primeiro, Daniel Mainwearing, sob o nome artístico de Geoffrey Homes, escreveu o romance “Build My Gallows High”. Depois, transformou-o em argumento cinematográfico, que, após revisão de Frank Fenton (“Rio sem Regresso”) e de James M. Cain (“Alma em Suplício”, “Pagos a Dobrar”, “O Destino Bate à Porta”), Jacques Tourneur filmaria com o nome de “Out of the Past” (“O Arrependido”).

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Primeiro, Daniel Mainwearing, sob o nome artístico de Geoffrey Homes, escreveu o romance “Build My Gallows High”. Depois, transformou-o em argumento cinematográfico, que, após revisão de Frank Fenton (“Rio sem Regresso”) e de James M. Cain (“Alma em Suplício”, “Pagos a Dobrar”, “O Destino Bate à Porta”), Jacques Tourneur filmaria com o nome de “Out of the Past” (“O Arrependido”).

Tal como aqueles três famosos filmes com argumento de James M. Cain – e também já aqui apresentados – “Out of the Past” pertence a esse género cinematográfico identificado como filme negro americano, cujo auge se verificaria nas décadas de 1930-40-50. Ora, nessas três décadas, o cinema americano, em geral, muito deveu a talentos europeus, entre os quais o dos franceses Jacques Tourneur, Jean Renoir, René Clair, dos ingleses Charles Chaplin e Alfred Hitchcock, dos alemães Ernst Lubitsch, William Wyler, Robert Siodmak e William Dieterl, dos austro-húngaros Michael Curtiz, Otto Preminger e Fred Zinnemann, dos austríacos Josef von Sternberg, Eric von Stroheim, Fritz Lang e Billy Wilder, para citar apenas, e não exaustivamente, realizadores.

Sendo negro, este filme constrói uma atmosfera de tensão psicológica, de contraste entre ambientes exteriores amplos e abertos e interiores mais ou menos claustrofóbicos, com equivalentes nos jogos de claro-escuro, que nos dá exemplos bastante notáveis da iluminação trabalhada, do que se pode fazer com muita e, especialmente, com pouca luz. Por isso, será justo destacar a direcção artística de Albert S. D’Agostino e Jack Okey, a cenografia de Darrell Silvera e a direcção de fotografia de Nicholas Musuraca. Importante é também a música de Roy Webb.

No que diz respeito aos actores, cingindo-nos às longas-metragens que por aqui passaram, é a estreia de Robert Mitchum, de Jane Greer e de Kirk Douglas. Robert Mitchum, de fácies caricatural e máscara impassível, encaixa bem numa personagem truculenta, cínica, individualista e com pendor perverso. Dir-se-ia que se especializou ou se cristalizou nesse tipo, ao passo que, por exemplo, Humphrey Bogart tanto era capaz de interpretar esse tipo de papéis como de acrescentar idoneidade, sentimento, generosidade e humanidade a outras figuras. À inexpressividade e à frieza de Mitchum – cuja fisionomia torna difícil distinguir se está a reagir à bebida preferida ou a um pé entalado debaixo de um piano de cauda ou se acabou de acordar de uma noitada – juntam-se as de Jane Greer, na interpretação de Kathie Moffat, uma mulher gananciosa e egoísta que compete com Jeff Bailey, aliás Jeff Markham (Robert Mitchum), no concurso de se servir de toda a gente.

Outro caso é o de Kirk Douglas. Embora remetido à modesta (para ele) condição de terceira figura no genérico, é apreciável o seu domínio dos tempos dos diálogos, a exactidão das movimentações em cena e a envolvência do seu sorriso, apesar de líder do submundo a que pertencem Kathie e Jeff. Actor muito identificado pelo seu papel de Spartacus no filme do mesmo nome realizado por Stanley Kubrick em 1960, é interessante vê-lo como investigador da polícia numa esquadra em “História de um Detective”, de William Wyler (1951), para verificar, em espaço cénico exíguo, a amplitude do desempenho da sua inter-relação humana e a qualidade da sua presença.

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