Marie Colvin cobria as guerras para ninguém poder dizer "eu não sabia"
O último texto foi publicado domingo no Sunday Times – segundo Neely, Colvin "queria que as suas palavras da Síria chegassem à maior audiência possível e estava frustrada porque o texto só podia ser lido por assinantes, o que impedia o artigo de estar disponível na Net". A última entrevista à BBC pode ser ouvida no site da emissora: Marie Colvin, enviada de guerra com 30 anos de experiência, compara o ataque do regime sírio a Homs com Srebrenica, e lembra que o mundo disse sobre o massacre de 1995 na Bósnia que "nunca mais seria possível".
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O último texto foi publicado domingo no Sunday Times – segundo Neely, Colvin "queria que as suas palavras da Síria chegassem à maior audiência possível e estava frustrada porque o texto só podia ser lido por assinantes, o que impedia o artigo de estar disponível na Net". A última entrevista à BBC pode ser ouvida no site da emissora: Marie Colvin, enviada de guerra com 30 anos de experiência, compara o ataque do regime sírio a Homs com Srebrenica, e lembra que o mundo disse sobre o massacre de 1995 na Bósnia que "nunca mais seria possível".
Marie Colvin, nascida em Nova Iorque mas há décadas a viver em Londres, foi "a" enviada do Sunday Times até morrer, ontem, num bombardeamento do Exército contra um edifício usado por jornalistas na cidade de Homs, ao lado de um hospital. Com ela morreu o fotojornalista francês Rémi Ochlik, de 28 anos. No mesmo ataque ficaram feridos dois jornalistas estrangeiros (Edith Bouvier, do Le Figaro, está gravemente ferida), assim como sete activistas sírios.
Jean-Pierre Perrin, enviado do Libération, esteve com Colvin e Ochlik em Homs. "Fomos aconselhados a deixar a cidade com urgência. Saímos, mas depois ela quis voltar."
Homenagens a Colvin foram ontem deixadas nas redes sociais por jornalistas que cobriram muitos dos conflitos das últimas décadas. Alguns conheceram-na em Beirute, outros em Jerusalém, na Tunísia, na Líbia ou no Sri Lanka, onde foi um dos primeiros ocidentais a entrar na zona controlada pela guerrilha dos tâmiles e onde perdeu um olho, há 11 anos. O editor do Times John Witherow lembrou uma mulher "com uma imensa alegria de viver, cheia de humor".
"Cobrir uma guerra significa ir a locais destroçados pelo caos, destruição e morte, e tentar dar testemunho", escreveu Marie Colvin em 2010, numa homenagem a jornalistas mortos em conflito. "Apesar de todos os vídeos do Ministério da Defesa e da linguagem sanitária que descreve bombas inteligentes e ataques certeiros, o cenário mantém-se igual há centenas de anos. Crateras. Casas queimadas. Corpos mutilados. Mulheres que choram os filhos e os maridos." A "nossa missão", acrescentou, "é relatar esse horror com rigor e sem preconceitos." "Temos sempre de nos interrogar sobre o nível de risco de cada história. O que é coragem e o que é fanfarrice?"
O jornal El País chamou-lhe "uma guerreira de outra época" e escreveu que "pertencia a um tipo de jornalistas em via de extinção: os enviados especiais; pessoas que viajam até aos lugares mais perigosos, arriscam a saúde, a vida, o equilíbrio mental e o dinheiro das suas empresas". A espécie não está extinta e a Síria, onde os jornalistas são obrigados a trabalhar clandestinamente, é prova disso. A semana passada morreu ali outro membro desta espécie: Anthony Shadid, do New York Times, que não sobreviveu a um ataque de asma.