Larousse lança dicionário de cinema. Será a última vez?
É um livro como já não se usa. Não tanto pela dimensão física - 1120 páginas, mais de 2,5 quilos... -, bem mais pela ousadia de, nestes tempos de tecnologias digitais e de recurso generalizado aos Googles e Wikipedias, haver ainda quem aposte na edição de um dicionário em modo convencional. A Larousse lançou no final do ano passado em França a nova edição do seu "Dictionnaire Mondial du Cinéma", obra de referência que, desde 1986, sob a direcção do historiador, crítico e coleccionador de "memorabilia" cinéfila Jean-Loup Passek (o ex-programador do Centro Pompidou e patrono do Museu de Cinema de Melgaço), vem ajudando a documentar a história do cinema nas suas mais amplas expressões geográficas e estéticas.
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É um livro como já não se usa. Não tanto pela dimensão física - 1120 páginas, mais de 2,5 quilos... -, bem mais pela ousadia de, nestes tempos de tecnologias digitais e de recurso generalizado aos Googles e Wikipedias, haver ainda quem aposte na edição de um dicionário em modo convencional. A Larousse lançou no final do ano passado em França a nova edição do seu "Dictionnaire Mondial du Cinéma", obra de referência que, desde 1986, sob a direcção do historiador, crítico e coleccionador de "memorabilia" cinéfila Jean-Loup Passek (o ex-programador do Centro Pompidou e patrono do Museu de Cinema de Melgaço), vem ajudando a documentar a história do cinema nas suas mais amplas expressões geográficas e estéticas.
A nova edição, dez anos passados sobre a anterior, saiu agora sob a coordenação de Christian Viviani (professor na Sorbonne, redactor da revista "Positif" e especialista em cinema americano e cinema de autor), à frente de um comité de redacção formado por Michel Baptiste, Jean A. Gili, Lucien Logette e Daniel Sauvaget. O volume - que fisicamente se apresenta como uma caixa metálica a fazer lembrar as bobines dos filmes em película - retoma e actualiza o trabalho que até agora tinha sido coordenado por Passek - que diz ao Ípsilon estar convencido de que esta "será a última vez" que um dicionário com estas características e esta ambição será editado. Os novos autores manifestam-se crentes, contudo, de que "continua a haver lugar, no nosso tempo, para um livro assim pesado", porque "há algumas coisas que só uma edição em papel pode oferecer" - lê-se no prefácio.
Entre as vantagens de uma edição como esta está a criteriosa mistura da informação que transita das edições anteriores com a sua actualização a partir de novos olhares, mas também da reavaliação da importância dos protagonistas da história da sétima arte.
Tendo como uma das suas principais virtudes a atenção ao cinema que se faz em todo o mundo - dos países do leste europeu à América do Sul, da África ao Extremo Oriente, para além, naturalmente, da produção americana e da Europa Ocidental -, o novo dicionário introduz também algumas novas entradas no cinema português. Entre elas estão as de Amália Rodrigues e de António-Pedro Vasconcelos, por exemplo. Mas, sem surpresa, continua a ser Manoel de Oliveira a merecer a atenção maior, equiparado a Dreyer e Ozu, com uma obra marcada pela "depuração" e pela procura da "transparência ontológica do cinema". E no novo Larousse permanecem também outros nomes da trupe de actores de Oliveira, junto com alguns "discípulos", de Leonor Silveira a Isabel Ruth e Luís Miguel Cintra, de João Botelho a Maria de Medeiros e Pedro Costa. E mantêm-se igualmente as entradas sobre o produtor Paulo Branco, os realizadores Paulo Rocha, António Reis
Margarida Martins Cordeiro e Teresa Villaverde, além do director de fotografia Acácio de Almeida.