Elas escrevem em pedras para fazer sorrir ou pensar
Afinal, as palavras não são levadas pelo vento, mas transportadas pelas pedras. Assim acreditam as mentoras dos projectos “Word Rocks” e “Doces de Pedra com Palavras”
E se, enquanto caminhas, te deparasses com uma pedra onde se lê "Let it be"? Carolina e Georgina usam pedras para distribuir palavras pelas cidades onde vivem. A primeira em San Diego, nos Estados Unidos, e a segunda em Vila Nova de Famalicão, em Portugal. Vivem a mais de 9000 quilómetros de distância, mas tiveram ideias semelhantes. Carolina foi a pioneira.
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E se, enquanto caminhas, te deparasses com uma pedra onde se lê "Let it be"? Carolina e Georgina usam pedras para distribuir palavras pelas cidades onde vivem. A primeira em San Diego, nos Estados Unidos, e a segunda em Vila Nova de Famalicão, em Portugal. Vivem a mais de 9000 quilómetros de distância, mas tiveram ideias semelhantes. Carolina foi a pioneira.
Quando Carolina Arêas, uma brasileira de 43 anos que reside em San Diego, começou o “Word Rocks”, fê-lo porque achava que seria bom partilhar palavras positivas com os outros: "amor", "paz" e "felicidade" foram as primeiras. Já Georgina Efigénio tem, aos 56 anos, o objectivo de pôr os famalicenses a reflectir. No primeiro seixo escreveu "Adeus Portugal".
Carolina partilha este projecto com o filho. Na verdade, quem teve a ideia foi mesmo Antônio Monteiro, o filho, de 10 anos. Num dia de Outubro de 2011 Carolina trouxe da praia alguns seixos. Chegada a casa, decidiu colori-las com palavras positivas e espalhá-las por algumas divisões como se de “objectos de inspiração” se tratassem.
Ao se aperceber do conceito, Antônio sugeriu à mãe a partilha dessas pedras, levando mensagens positivas a outras pessoas também. E assim foi. Sempre que saem de casa deixam algumas pedras espalhadas pela cidade de San Diego, nomeadamente em cafés, livrarias e jardins. Desde que o projecto se tornou público, Carolina foi bombardeada com pedidos que chegaram do Brasil, Portugal, Nova Iorque e Toronto de pessoas que querem ser voluntárias desta "caminhada de amor, positivismo e paz".
“Doces de Pedra com Palavras”
Georgina Efigénio tem outra missão. Com o projecto “Doces de Pedra com Palavras” tem posto os habitantes de Famalicão a pensar. Inspira-se em livros, filmes ou aforismos vários e coloca as pedras em locais bastante movimentados onde acredita que vão ser lidas. E de facto, até ao momento, nenhuma das pedras permaneceu no local onde foi deixada.
Tudo começou no dia 1 de Janeiro de 2012, mas a ideia não sabe precisar de onde veio: "O nosso cérebro faz várias colagens. Mas talvez tenha começado com um artigo que li no Ípsilon, sobre uma exposição em Lisboa de um artista turco que pintou aviões em pedras, alusivas à guerra árabe. Quando terminou a exposição, regressou à Turquia e decidiu espalhar as pedras."
A mensagem “Adeus Portugal” surgiu no âmbito da sugestão de Pedro Passos Coelho sobre a emigração jovem. Mas Georgina lembra-se particularmente de uma outra. O seixo com as palavras “Estamos vivos” foi deixado num sítio que jamais esquecerá: o Centro de Emprego. “Apesar de todas as dificuldades, sobretudo num ano tão austero, é importante que as pessoas percebam o que é realmente importante: a vida.”
Georgina ressalva que esta é uma forma de provocação. Com cerca de 70 pedras pintadas a acrílico, já sabe que mensagem vai deixar numa próxima: “Para mim é mais importante um vestido novo que o sucesso.” A autora? Agustina Bessa-Luís.