Steve Jobs tinha tendência para “distorcer a realidade”, diz relatório do FBI
A investigação do FBI foi motivada por uma possível nomeação de Steve Jobs para o Conselho das Exportações norte-americano, durante a administração de George Bush, já depois de ter sido despedido da Apple (e anos antes do seu regresso consagrador à empresa). O resultado foram 191 páginas que traçam o perfil anguloso de um homem de ambição desmesurada.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A investigação do FBI foi motivada por uma possível nomeação de Steve Jobs para o Conselho das Exportações norte-americano, durante a administração de George Bush, já depois de ter sido despedido da Apple (e anos antes do seu regresso consagrador à empresa). O resultado foram 191 páginas que traçam o perfil anguloso de um homem de ambição desmesurada.
A visão e as capacidades empresariais de Steve Jobs nunca são postas em causa. O ícone da indústria não cai com este dossier. Se há algo que o relatório põe em causa é o homem, não o empresário. Nas 29 entrevistas efectuadas pelo FBI encontram-se referências reiteradas ao “indivíduo complexo” e ao “carácter moral suspeito” de Jobs, para usar as palavras de um amigo.
Este é o mesmo entrevistado que caracteriza Jobs como um “bom amigo”, “uma pessoa honesta e digna de confiança. Pelo menos até ter posto a ambição em primeiro plano. Steve Jobs “alineou um grande número de pessoas na Apple como resultado da sua ambição”. Um outro entrevistado sublinha o “indivíduo enganador que não é completamente franco e honesto”.
Descrito como pai negligente (por inicialmente ter repudiado a filha mais velha, Lisa, que mais tarde viria a dar nome a uma das suas criações), Jobs é ainda exposto como alguém que “deturpa e distorce a realidade para alcançar os seus objectivos”. A sua realidade e a dos demais: é o “campo de distorção da realidade” de que falava Bud Tribble em 1981, recuperando uma expressão do Star Trek para descrever o capacidade que Jobs tinha para convencer os outros da bondade e validade das suas ideias. Walter Isaacson recuperou esta expressão para a biografia A estranha vida de Steve Jobs.
Steve Jobs era “obstinado, teimoso, muito trabalhador e direccionado”, de acordo com mais dois entrevistados. A razão do seu sucesso, disseram. Mas não ficam por aí: há também a “energia incansável”, a “visão” e a “contribuição positiva na cena nacional”, que faziam dele alguém com “o que era preciso para assumir um alto cargo político”. Quem o afirmou, lê-se no relatório, não considerava a honestidade e a integridade pré-requisitos para um cargo desses.
Os registos do FBI incluem ainda um episódio de tensão na Apple, vivido a 7 de Abril de 1985: uma ameaça de bomba. “Um homem não identificado fez uma série de telefonemas para a Apple (…) e fez saber que tinham sido colocados ‘dispositivos’ nas casas de alguns indivíduos e que um milhão de dólares tinha de ser pago”, lê-se. As bombas nunca foram encontradas. A ameaça precedeu em alguns meses o despedimento de Jobs da Apple.
O próprio Jobs prestou declarações ao FBI. E disse que apesar de ter usado drogas ilegais entre 1970 e 1974 – marijuana, haxixe e LSD –, não o fazia há cerca de cinco anos (por altura da entrevista). Quanto às filiações políticas, assegurou não militar no partido comunista nem integrava a qualquer movimento ou organização com pretensões a derrubar o governo norte-americano. Pertencia apenas ao New York Athletic Club, um ginásio exclusivo de Manhattan, ao qual disse nunca ter ido.