China e Rússia vetam resolução da ONU que condenaria violência na Síria

Foto
Embaixador chinês na ONU, Li Baodong (ao centro) à chegada à reunião deste sábado Foto: Allison Joyce/Reuters

Mais de 200 civis foram mortos na noite de sexta-feira para sábado na sequência de bombardeamentos levados a cabo pelo regime sírio em Homs, um dos berços da contestação naquele país. O massacre aconteceu numa altura em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas trabalhava uma resolução para a Síria. Mas apesar de intensas negociações de última hora, Pequim e Moscovo vetaram o texto e inviabilizaram a resolução.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Mais de 200 civis foram mortos na noite de sexta-feira para sábado na sequência de bombardeamentos levados a cabo pelo regime sírio em Homs, um dos berços da contestação naquele país. O massacre aconteceu numa altura em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas trabalhava uma resolução para a Síria. Mas apesar de intensas negociações de última hora, Pequim e Moscovo vetaram o texto e inviabilizaram a resolução.

Em Munique, onde está a participar numa conferência sobre segurança, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, alertou para a “grande probabilidade” de uma guerra civil na Síria depois do veto da Rússia e da China à resolução do Conselho de Segurança que exigia o fim da violência. “Quando o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia me pediu a opinião sobre o resultado das negociações diplomáticas, fui muito clara: se a comunidade internacional não se unir e enviar um sinal muito claro, a Síria vai mergulhar na guerra civil”, referiu Clinton.
“Sabemos perfeitamente o que vai acontecer: vai haver mais violência, e também mais resistência daqueles que estão a ver os seus familiares ser assassinados e as suas casas a ser bombardeadas”, antecipou.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e o chefe dos serviços de inteligência deste país, Mikhail Fradkov, vão na próxima terça-feira a Damasco, para se encontrarem com o Presidente sírio. O anúncio foi feito por Lavrov, num comunicado.

Dadas as restrições que Damasco levanta contra a presença da imprensa internacional, é virtualmente impossível uma confirmação independente sobre os acontecimentos da última noite em Homs.

Os restantes 13 países com assento naquele órgão – incluindo Portugal – votaram favoravelmente aquele texto, mas as posições de Pequim e Moscovo inviabilizaram uma posição comum e oficial.

As horas após a divulgação de problemas vividos em Homs – que terá sido bombardeada – foram plenas de movimentações. O líder dos EUA, Barack Obama, pediu que Assad deixe o poder, antes mesmo de o Conselho de Segurança falhar uma posição comum.

Defesa de "um tirano"

À saída da reunião, os diplomatas ocidentais não escondiam a sua desilusão e, no caso da representante norte-americana Susan Rice, a sua fúria com a posição assumida pela Rússia e a China, que acusou de estarem a “defender um tirano”.

“Esta intransigência é ainda mais escandalosa quando se sabe que um dos membros [a Rússia] continua a fornecer armamento ao exército de Assad”, criticou. “Todo o futuro derramamento de sangue será sua responsabilidade”, bradou Rice, que disse estar “enojada”.

O tom dos seus correlegionários foi igualmente duro. O embaixador francês considerou o veto “deplorável” e acusou Moscovo e Pequim de “cumplicidade com a política de repressão de Damasco”. “A história não deixará de os julgar severamente”, vaticinou.

O representante britânico confessou-se consternado, enquanto o seu colega da Alemanha lamentou que o Conselho de Segurança tenha “mais uma vez falhado”. Numa referência à declaração ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, que havia antecipado um escândalo se o Conselho avançasse com a votação da resolução, o embaixador alemão Peter Wittig contrariou que “escandaloso é não fazer nada”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lamentou profundamente o veto da resolução contra a Síria no Conselho de Segurança. “É uma grande decepção para o povo sírio e para todos os defensores da democracia e dos direitos do homem”, declarou. O dirigente expressou ainda a sua preocupação com a atitude da Rússia e da China, que na sua opinião “enfraquece e diminui o papel das Nações Unidas” na resolução de crises internacionais.

Também o Parlamento Europeu emitiu uma posição lamentando a oportunidade perdida no Conselho de Segurança para aumentar a pressão sobre a Síria. “Apelo à união da comunidade internacional, incluindo a Rússia e a China, que devem levar a sério as suas responsabilidades”, sublinhou o presidente do PE, Martin Schulz, que considerou que o Presidente Bashar al-Assad perdeu toda a legitimidade e deve afastar-se de imediato. “O Parlamento Europeu condena as terríveis atrocidades cometidas pelo regime sírio contra a população civil de Homs. O que aconteceu foi um massacre de inocentes”, denunciou.

Pelo seu lado, o representante da Síria nas Nações Unidas, Bashar Jaafari, congratulou-se com o fracasso da iniciativa do Conselho de Segurança, que na sua interpretação está a ser manipulado pelas potências ocidentais para agir contra o regime de Damasco. “O tom das suas declarações é muito pouco diplomático, e trai as suas genuínas intenções contra a Síria, o povo da Síria e o Governo da Síria”, lamentou Jaafari. O diplomata repetiu a posição oficial de que a crise política na Síria não existe, tratando-se de uma campanha mediática contra Assad.

Notícia actualizada às 20h14:

acrescenta os parágrafos finais com as múltiplas reacções ao veto de Pequim e Moscovo.