Ex-director de Informação da RDP assume decisão de fim das crónicas
"O fim da rubrica Este Tempo foi decidido por mim num acto de gestão normal e não motivado por pressões internas ou externas", afirma João Barreiros, acrescentando que "a decisão estava tomada antes da emissão da crónica de Pedro Rosa Mendes e há vários testemunhos disso mesmo".
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"O fim da rubrica Este Tempo foi decidido por mim num acto de gestão normal e não motivado por pressões internas ou externas", afirma João Barreiros, acrescentando que "a decisão estava tomada antes da emissão da crónica de Pedro Rosa Mendes e há vários testemunhos disso mesmo".
Recusando que tenha havido qualquer intervenção da administração neste assunto, o agora director demissionário garante: "E afirmo, porque é verdade, que o director-geral nunca me deu qualquer instrução para acabar com a rubrica Este Tempo por causa da crónica de Pedro Rosa Mendes."
A posição pública de João Barreiros acontece uma semana e meia depois do início da polémica. O jornalista Pedro Rosa Mendes denunciou na terça-feira da passada semana, em primeira mão ao PÚBLICO, que a RDP decidira acabar com o programa de crónicas Este Tempo porque a administração não gostara do conteúdo da sua crónica, muito crítica, sobre a RTP e Angola. Esta fora, contou, a justificação que o director-adjunto lhe dera quando lhe comunicou o final das crónicas.
João Barreiros conta que os documentos referentes à renovação dos contratos dos colunistas "estavam prontos a 30 de Dezembro, três semanas antes da referida emissão e nunca seguiram para o correio pelas fortes dúvidas que a continuidade de Este Tempo me mereciam". E diz que tinha a "convicção de que a rubrica não podia continuar como estava" e por isso mesmo "não foi proposta nenhuma renovação de contrato".
Na mensagem áudio colocada como manchete do site da RTP por volta das 12h30, João Barreiros garante que "a redacção do serviço público não faz favores, e a sua direcção de informação também não". "Qualquer tentativa de intromissão ilegítima seria veementemente repudiada", avisa. E defende a administração ao afirmar que "pela prática de muitos anos", diz ser "testemunha de que a administração da empresa não tem qualquer intervenção nas direcções de conteúdos".
O responsável da RDP lembra de seguida que "nenhuma redacção e nenhuma direcção são tão escrutinadas como as do serviço público, através da Assembleia da República, da ERC, do Conselho de Opinião, do Provedor do Ouvinte e não menos importante do que todas estas, pelo auditório". "Somos uma redacção livre", vinca.
O "ruído" e o "aproveitamento externo" que o caso provocou fazem com que seja "insustentável" continuar a fazer um "um trabalho sereno, sério e reconhecido", ao mesmo tempo que "afectam de forma grave mas também ilegítima a imagem de pessoas e de uma empresa que dão o melhor de si todos os dias". A consequência é, por isso, a sua demissão, para que se possa perceber exactamente o que aconteceu, remata João Barreiros.
Ontem ao fim da tarde, os jornalistas tinham exigido que a direcção de Informação clarificasse definitivamente a sua posição sobre o assunto, já que havia "duas versões contraditórias sobre os mesmos factos”: João Barreiros dizia que a decisão fora tomada por os contratos terminarem no final de Janeiro, o seu adjunto, Ricardo Alexandre, afirmava que Barreiros lhe comunicara que a administração queria acabar com o programa porque não gostara das críticas sobre Angola.
Em plenário que durou quatro horas e meia, os jornalistas aprovaram um comunicado em que condenavam a “forma desastrosa e lamentável” como o caso tem sido conduzido, o que permitiu “criar e arrastar no tempo suspeitas sobre a ética, honorabilidade, rigor e isenção de todos os profissionais da Redacção da RDP”.