Desilusões do Sebastianismo (I)

Desilusões do Sebastianismo (I)

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Obama e Bush

Quando Barack Obama foi eleito, a 4 de Novembro de 2008, 44.º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), o velho continente figurou entre os vários espectadores mundiais que sustiveram a respiração em parêntesis, num misto de expectativa e alívio.

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Quando Barack Obama foi eleito, a 4 de Novembro de 2008, 44.º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), o velho continente figurou entre os vários espectadores mundiais que sustiveram a respiração em parêntesis, num misto de expectativa e alívio.

 

De cada vez que a América muda, o mundo muda com ela. E ultrapassada a era Bush, em que uma Europa dividida foi forçada a tomar posição sob o repto de que “quem não está por mim, está contra mim”, ecoaram, vindas do outro lado do Atlântico, palavras de mudança.

 

Não foi possível dizer “não” às auspiciosas promessas do novo ícone da política internacional, a quem, ainda no primeiro ano de mandato, foi atribuído o Nobel da Paz. Como então noticiaram os jornais, tratava-se de um “Nobel da Esperança”. O próprio Comité Nobel esclareceu que Obama fora escolhido porque “é muito raro uma pessoa conseguir, no tempo em que Obama conseguiu, capturar [captar] a atenção mundial e dar às pessoas um sentimento de esperança rumo a um futuro melhor”.

 

Mas mais raro do que criar expectativas, é corresponder-lhes, e o olhar que deitávamos a Obama, de uma crença quase pueril, parece agora o de quem espera a chegada de um barco que não vem.

 

Guantánamo permanece imune às promessas de encerramento no início de Janeiro de 2010. Como uma ferida aberta nos mais elementares princípios da Democracia e do respeito pelos Direitos Humanos, ergue-se a sua bandeira sob o estandarte da segurança colectiva, novo baluarte da civilização ocidental.

 

As detenções de suspeitos por tempo indefinido, sem julgamento, também não conheceram o fim anunciado. Pelo contrário, a 31 de Dezembro de 2011, Obama fez passar, depois de merecer também a esmagadora aprovação do Congresso, a National Defense Authorization Act (NDAA) para o ano fiscal de 2012. Destinado a regular, em primeira linha, o financiamento de todas as vertentes da Defesa dos EUA, o diploma concede poderes presidenciais particularmente musculados em matéria de detenções, por tempo indefinido, de suspeitos da prática de actos terroristas, nacionais e estrangeiros.

 

De pouco ou nada valeu o acto de contrição de Obama: “I have signed this bill despite having some serious reservations with certains provisions that regulate the detention, interrogation, and prossecution of suspected terrorists.” Esta lei mereceu acesas críticas por parte da American Civil Liberties Union e não passou despercebido aos meios de Comunicação Social mais atentos. Dias antes da aprovação presidencial, comentadores políticos registavam o seu desagrado no jornal inglês "The Guardian", apelidando-a de “pernicious and Orwellian piece of legislation”, e tecendo duras críticas às políticas – que não à personalidade – de Barack Obama, que não teria correspondido à esperada demarcação face ao seu antecessor republicano.

 

“Liberals have to ask themselves: do civil liberties and human rights only matter when a Republican is sitting in the Oval Office?”, provocava o comentador no citado jornal. A nós, fica-nos o amargo de boca de ver Obama olhar para trás e perceber que Bush era, afinal, tão só, “o Outro que era Eu”.