WWF alerta para os riscos da exploração excessiva da água do rio Guadiana

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Portugal e Espanha estão descoordenados em relação Plano Hidrográfico do Guadiana Pedro Cunha

A World Wildlife Fund (WWF) denunciou ontem, através de comunicado, a forma "descoordenada e incompatível" com que estão a ser apresentadas as versões portuguesa e espanhola do Plano Hidrográfico do Guadiana, ambas em fase de consulta pública. Além do mais, os critérios de análise que estão a ser seguidos "revelam-se perigosos para o Guadiana", alega Afonso do Ó, especialista em recursos hídricos da WWF em Portugal, precisando que o "perigo vem da crescente sobreexploração dos recursos, da falta de uma abordagem preventiva face às alterações climáticas e às secas, e do risco de ruptura dos serviços dos ecossistemas ribeirinhos".

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A World Wildlife Fund (WWF) denunciou ontem, através de comunicado, a forma "descoordenada e incompatível" com que estão a ser apresentadas as versões portuguesa e espanhola do Plano Hidrográfico do Guadiana, ambas em fase de consulta pública. Além do mais, os critérios de análise que estão a ser seguidos "revelam-se perigosos para o Guadiana", alega Afonso do Ó, especialista em recursos hídricos da WWF em Portugal, precisando que o "perigo vem da crescente sobreexploração dos recursos, da falta de uma abordagem preventiva face às alterações climáticas e às secas, e do risco de ruptura dos serviços dos ecossistemas ribeirinhos".

Com efeito, as propostas dos dois países "não estão coordenadas", acentua a WWF, destacando os volumes de água que se atribuem aos diferentes usos e que "superam" a capacidade da bacia, que já se encontra afectada pela escassez "porque a procura é superior à oferta", tanto na parte portuguesa como na espanhola. É inaceitável, prossegue a organização ambientalista, que continuem a ser autorizados "os elevados volumes da procura", frisando que está previsto o seu aumento, em grande parte para novos regadios.

Mais grave ainda, é saber-se que os novos planos hidrográficos "não definem nem integram os caudais ecológicos como uma medida prioritária a ter em conta", de acordo com as normas da Directiva Quadro da Água. Em Espanha, definiram-se caudais "claramente insuficientes e sobre os quais existem sérias dúvidas de que venham a ser cumpridos", e em Portugal "apenas se fizeram aproximações de caudais mínimos usando uma metodologia inapropriada".

Os transvases propostos nos planos de Portugal e Espanha são também motivo de preocupação da WWF, na medida em que, afirma, foram planeados sem ter sido analisado o seu custo ambiental e económico, e sem alternativas de gestão da procura baseadas no uso eficiente da água, em novos tarifários e no controlo dos usos ilegais. Também o esperado impacto das alterações climáticas não está "suficientemente" considerado nos planos. Portugal não contempla os impactos das alterações climáticas e "não existe" um plano de seca. Em Espanha, "apesar de existir um plano de seca", o critério que tem sido seguido baseia-se "exclusivamente" na procura de água.

Eva Hernández, responsável da WWF Espanha, explica que o caminho mais adequado passa pela gestão da bacia hidrográfica do Guadiana "como um todo" e que só através da "coordenação das agendas" dos dois países se poderá "assegurar o futuro dos valores naturais, culturais e socioeconómicos" de um rio que a WWF classifica de "prioritário" por ser um "importante foco mundial de biodiversidade". O Guadiana rega mais de um milhão de hectares e abastece cerca de 1,7 milhões de pessoas em Portugal e Espanha.