Programa aumentou procura de cantinas escolares mas pais pedem atenção ao que é servido
O programa foi criado para “promover os refeitórios escolares através de uma fidelização dos alunos a este espaço, reduzindo a tendência de opção por outros espaços”, explicou fonte do Ministro da Educação e Ciência (MEC), referindo-se à atracção que os jovens sentem pelos “estabelecimentos de restauração colectiva no espaço circundante à escola”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O programa foi criado para “promover os refeitórios escolares através de uma fidelização dos alunos a este espaço, reduzindo a tendência de opção por outros espaços”, explicou fonte do Ministro da Educação e Ciência (MEC), referindo-se à atracção que os jovens sentem pelos “estabelecimentos de restauração colectiva no espaço circundante à escola”.
No entanto, a Confederação de Associação de Pais, perante os preços das refeições das escolas cada vez mais baixos, pede aos pais para que estejam atentos ao que é colocado nos pratos dos filhos – apesar de não se estar a referir directamente a este programa, mas sim à realidade nacional. “Nós hoje temos preços de refeição mais baratos do que existiam há quatro anos”, revela à Lusa o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida, contrabalançando esta realidade com o aumento do custo de vida.
A iniciativa “Programa 100%” foi levada a cabo pela Unilever Foods Solution, que se ofereceu para “ensinar” alguns truques às cozinheiras das escolas para que conseguissem transformar uma típica refeição de cantina num prato atractivo para os alunos. De acordo com o MEC, até ao momento foram formadas 416 cozinheiras e auxiliares, com a ajuda de sete chefs da Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal e da Unilever Food Solutions. Em simultâneo, foram formadas “brigadas de cozinha”, que passaram a estar responsáveis pela elaboração das ementas nas escolas.
De acordo com os dados do MEC, inscreveram-se no programa 275 escolas, mas apenas 96 têm a iniciativa a decorrer, estando outras 12 em fase de concretização. No total, já beneficiaram do programa “cerca de 30.000 alunos”, segundo dados do Ministério da Educação. “O Ministério da Educação concedeu-nos o seu apoio” porque queria combater um problema, que era “o número de alunos a evitar a cantina da escola em busca de opções com mais sabor, mas que poderiam não ser as mais correctas nutricionalmente”, contou à Lusa a responsável pela comunicação da Unilever Foods Solutions, Mónica Vaz.
Apresentação mais apelativaApesar de ainda não ter estudos muito aprofundados, o MEC diz ter um “feedback das direcções das escolas que aponta para um aumento de cerca de 10% de adesão aos refeitórios”. Além do aumento de alunos nas cantinas, Mónica Vaz garante que a iniciativa conseguiu pôr os alunos a alimentarem-se melhor: “Passaram a comer mais legumes, pois os pratos confeccionados têm uma apresentação mais apelativa e são mais saborosos”.
Até agora, as escolas abrangidas pelo “Programa 100%” eram agrupamentos ou escolas do 2º e 3º Ciclo, ou seja, jovens com mais de 10 anos de idade. No entanto, a empresa admite vir a alargar o programa às universidades. Além de tentar transmitir aos jovens os benefícios de uma alimentação saudável, o programa queria provar que a alimentação escolar pode ser “100% saudável, 100% variada e 100% saborosa”, lembrou Mónica Vaz.
Sobre a redução nos preços, para Albino Almeida está relacionada com o desejo das empresas em conseguir ganhar os concursos. “Só isso é motivo suficiente para estarmos atentos à qualidade e à qualidade dos alimentos”, defende. À Confap chegam várias vezes histórias de escolas onde a comida não agrada aos pais por ser de má qualidade ou parecer “manifestamente insuficiente”.
Sem identificar os estabelecimentos de ensino, Albino Almeida exemplificou com um caso em que foi servida uma sopa aos alunos “sem qualidade” e outro em que “as doses da carne eram manifestamente insuficientes”. O responsável diz que ainda hoje guarda as fotografias tiradas às refeições colocadas nos pratos dos alunos.
Mas vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, António José Ganhão, garante que a qualidade das refeições tem vindo a melhorar nos últimos anos e que as denúncias das associações de pais se referem a casos pontuais, que as escolas tentam resolver no momento. O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Adalmiro Fonseca, acredita que a descida de preços é conseguida com cortes no pessoal contratado, mas “nunca com cortes na comida”.
Já Manuel Esperança, do Conselho das Escolas, defende que a qualidade das refeições “depende” das empresas fornecedoras e que a garantia da qualidade é uma responsabilidade das direcções regionais e das escolas.
A Lusa questionou o Ministério da Educação e Ciência (MEC) sobre o número de queixas que anualmente chegam às direcções regionais de educação, mas a tutela optou por explicar os procedimentos seguidos: “Todas as queixas que chegam às Direcções Regionais, independente do motivo (qualidade, quantidade, diversidade, higiene, número de trabalhadores adstritos ao serviço) são tratadas com as empresas fornecedoras através de contactos directos, designadamente reuniões”.
O MEC garantiu que “as Direcções Regionais de Educação mantêm um contacto permanente com os Agrupamentos/Escolas, intervindo junto das empresas fornecedoras sempre que lhe são relatados problemas de qualquer índole, de forma a ultrapassar as eventuais deficiências detectadas”.
Albino Almeida reconhece que, sempre que foram feitas queixas, “a qualidade da comida melhorou substancialmente”. Para a Confap, a forma de contornar eventuais problemas era permitir às associações de pais “total acesso” às cantinas e aos contratos de concessão celebrados com as empresas.