BE questiona apoio do Instituto Tropical a exposições de filha de Braga de Macedo
Nesta sexta-feira, quando o caso foi conhecido em Portugal, o IICT emitiu uma nota em que rejeitava ter dado “qualquer apoio contrário à lei ou à ética”. Hoje, confrontado pelo PÚBLICO com o pedido de esclarecimento feito pela deputada Ana Drago, Braga de Macedo disse que a “motivação política [da iniciativa do Bloco de Esquerda] é óbvia” e que responderia “pela via da tutela”.
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Nesta sexta-feira, quando o caso foi conhecido em Portugal, o IICT emitiu uma nota em que rejeitava ter dado “qualquer apoio contrário à lei ou à ética”. Hoje, confrontado pelo PÚBLICO com o pedido de esclarecimento feito pela deputada Ana Drago, Braga de Macedo disse que a “motivação política [da iniciativa do Bloco de Esquerda] é óbvia” e que responderia “pela via da tutela”.
“O procedimento quanto às perguntas ao Governo, cuja motivação política é óbvia, é responder pela via da tutela, o que farei se e quando me for pedido, como tantas vezes fiz, especialmente relativamente a esse grupo parlamentar”, afirmou Braga de Macedo, numa resposta enviada ao PÚBLICO por e-mail.
O BE quer saber qual foi o montante do subsídio concedido pelo IICT à artista plástica Ana de Macedo, qual o montante reservado pelo laboratório ao apoio à actividade artística nos últimos três anos e quantas exposições artísticas tiveram apoio financeiro do instituto nos últimos 15 anos, em Maputo ou em qualquer lugar de Moçambique.
“Ninguém pode ser prejudicado por ser filho de quem é, como é natural. Mas o carácter extraordinário deste apoio, sem qualquer ligação com a forma como o próprio instituto define a sua missão, exige um esclarecimento público”, lê-se no pedido de esclarecimento enviado ao ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato (embora o IICT seja tutelado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros).
Foi o apoio do IICT à exposição “Caras e Citações: uma interpretação estética sobre Universidade, Cultura e Desenvolvimento”, em Julho, que motivou a indignação de José Pimentel Teixeira, português residente em Maputo. Num texto intitulado “Nepotismos idiotas”, o antropólogo atesta que foi a primeira vez que viu “alguma intervenção artística” ser apoiada por aquele laboratório na capital moçambicana.
“Aqui vivo há quinze anos, tenho acompanhado, primeiro profissionalmente e depois como amador, a vida cultural da cidade e nisso também as realizações chegadas de Portugal. Nunca esse Instituto havia patrocinado alguma intervenção artística. Até agora. Acontece que a autora do escolar trabalho, Ana de Macedo, é filha de Jorge Braga de Macedo, presidente do referido IICT”, escreve José Pimentel Teixeira.
Este texto levou Daniel Oliveira a investigar a relação de Ana de Macedo com o instituto a que o pai preside. “Bastaram uns telefonemas e umas buscas na Net. Tudo é feito às claras, como se se tratasse da coisa mais natural do mundo. O apoio do IICT a esta exposição e a esta artista já vem de Lisboa, com uma parceria entre a Faculdade de Letras (no âmbito do seu centenário) e este laboratório do Estado, através do seu projecto ‘Saber Continuar’”, avança o comentador no blogue que mantém no Expresso.
“Mas mais ainda: outra exposição de Ana de Macedo, em Março de 2010, agora sobre Jorge Borges de Macedo (pai do presidente e avô da artista – fica tudo em família), contou com o apoio desta instituição pública, mais uma vez no âmbito do tal projecto ‘Saber Continuar’. E parei aqui a investigação, com a certeza que iria encontrar muito mais nesta frutuosa relação familiar com dinheiros públicos”, escreve ainda Oliveira.
Ana Drago acrescenta, no pedido de esclarecimento ao Governo: “Na página do IICT é possível encontrar referência a várias exposições, mas todas elas, tirando a que celebra os 125 anos do Palácio Burnay, edifício histórico do Instituto, tem uma ligação directa e lógica à actividade científica do IICT. Nada disso acontece nas duas exposições acima referenciadas.”
Na resposta por e-mail que deu ao PÚBLICO, Braga de Macedo reitera o conteúdo da nota emitida ontem, sexta-feira, em reacção a uma notícia do Diário de Notícias. Nesse comunicado, a responsável pela comunicação do IICT, Teresa Albino, diz que Daniel Oliveira “refere várias vezes o projecto ‘Saber Continuar’ mas não leu os links que inclui na sua notícia, porque senão saberia que o patrocínio do projecto é privado, não tendo por isso nada a ver com ‘o nosso dinheiro’ referido no título a seguir a ‘a filha de Braga de Macedo’”. “Para quem consulte o sítio do IICT é portanto óbvio que não houve qualquer apoio a Ana de Macedo contrário à lei ou à ética”, conclui.