A Gruta dos Sonhos Perdidos

Quem esperar do novo documentário de Werner Herzog, viagem à gruta francesa do Ardèche conhecida como “gruta de Chauvet”, algo mais próximo dos “casos verídicos” de “Little Dieter Wants to Fly” ou “Grizzly Man”, pode desde já tirar o cavalinho da chuva. Estamos mais do lado das explorações esotéricas da condição humana que sempre atrairam o cineasta alemão, de filmes como “Fata Morgana” até ao recente “The Wild Blue Yonder”: esta viagem à “Gruta dos Sonhos Esquecidos” fala do “homo spiritualis” por oposição ao “homo sapiens”, introduzindo crocodilos albinos, Fred Astaire e mestres de perfumaria na sua visita a esta gruta pré-histórica que é mantida hermeticamente selada do resto do mundo, devido à presença das gravuras com 32 mil anos de idade que são as manifestações artísticas mais antigas conhecidas no planeta.

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Quem esperar do novo documentário de Werner Herzog, viagem à gruta francesa do Ardèche conhecida como “gruta de Chauvet”, algo mais próximo dos “casos verídicos” de “Little Dieter Wants to Fly” ou “Grizzly Man”, pode desde já tirar o cavalinho da chuva. Estamos mais do lado das explorações esotéricas da condição humana que sempre atrairam o cineasta alemão, de filmes como “Fata Morgana” até ao recente “The Wild Blue Yonder”: esta viagem à “Gruta dos Sonhos Esquecidos” fala do “homo spiritualis” por oposição ao “homo sapiens”, introduzindo crocodilos albinos, Fred Astaire e mestres de perfumaria na sua visita a esta gruta pré-histórica que é mantida hermeticamente selada do resto do mundo, devido à presença das gravuras com 32 mil anos de idade que são as manifestações artísticas mais antigas conhecidas no planeta.

Rodando em 3D no interior da caverna que apenas abre as suas portas uma vez por ano a cientistas e está interdita ao grande público, Herzog quer com “Cave of Forgotten Dreams” fazer uma cápsula do tempo que sirva de “equivalência” contemporânea às gravuras deixadas em Chauvet. Como se a sua intenção fosse criar a sua própria “gruta dos sonhos esquecidos” - usando o 3D como versão contemporânea do artesanato das gravuras, reforçando a sensação de estarmos de repente frente a frente com algo que é completamente alienígena à nossa compreensão, uma espécie de olhar não mediado para a natureza do tempo e da arte que nos confronta com a nossa própria pequenez face ao universo e ao passar do tempo. Missão cumprida, é certo, mesmo que a sensação seja a de que, se não fosse o efeito do 3D, este seria um daqueles filmes “só para ferrenhos” de Herzog.