Rei Ghob não prestou declarações no julgamento que hoje se iniciou

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Julgamento teve início hoje mas Rei Ghob continuou sem prestar declarações Daniel Rocha

Na sessão de hoje, procedeu-se à leitura da acusação, tendo a próxima sessão sido marcada para o próximo dia 16, altura em que serão ouvidas algumas das 37 testemunhas arroladas. O início do julgamento decorreu de forma tranquila, não se registando concentrações de familiares ou curiosos.

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Na sessão de hoje, procedeu-se à leitura da acusação, tendo a próxima sessão sido marcada para o próximo dia 16, altura em que serão ouvidas algumas das 37 testemunhas arroladas. O início do julgamento decorreu de forma tranquila, não se registando concentrações de familiares ou curiosos.

Preso desde Junho do ano passado, Francisco Leitão nunca colaborou com a polícia, que ainda hoje desconhece qual o destino dado aos quatro corpos. Um júri de oito pessoas irá ditar a sorte daquele que já é apontado como um dos mais frios homicidas portugueses.

Tem 43 anos, é divorciado e carrega sobre os ombros a acusação de quatro mortes. Três delas, entre 2008 e 2010, aparentemente motivadas pelos ciúmes. Também em 1995 foi indiciado por outro homicídio, o de um outro sucateiro que um dia conheceu em Peniche. Na zona Oeste, fértil em desaparecimentos de pessoas, muitos temem que o número de mortes atribuídas a Ghob seja bem superior ao conhecido. Nos postos locais da GNR caíram, desde que Leitão foi detido, várias suspeitas. Até hoje mais nenhuma se confirmou.

Dele dizem os peritos médicos que se trata de alguém com características “histeriformes, narcísicas, anti-sociais”. Dizem também que tem um “comportamento de manifesta frieza e distanciamento afectivo, reflectindo reserva e facetas de introversão, desconfiança, egocentrismo, sugestionabilidade, dificuldades em lidar com estímulos emocionais, instabilidade emocional, tendência à auto-desculpabilização, baixo limiar de tolerância e situações frustrantes e dificuldade no controlo dos impulsos”. “A sua interacção com os outros é marcada por sedução, ou provocação, ou mesmo desconforto em não ser o centro das atenções”.

Terá sido essa necessidade de se tornar no centro de todas as atenções que o levou a transformar um velho barracão agrícola herdado por morte dos pais numa espécie de castelo grotesco, enfeitado com lanças e outras armas medievais, salpicado de imagens de gnomos, de anões e anjos. Uma fortaleza que quis que fosse inexpugnável, protegendo-a com um razoável sistema de vídeo e onde não falta sequer uma espécie de masmorra: um quarto subterrâneo, cuja entrada (uma escadaria estreita com alguns metros de comprimento) esteve escondida dos olhares, tapada com sucata.