Líder parlamentar do PSD e quadros da Ongoing juntos em encontro maçónico
Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, foi convidado em Junho passado para participar num jantar debate sobre Portugal, "reservado" a "membros da nossa casa", a loja maçónica Mozart49, e com o objectivo de interagir "com o mundo profano". Na lista de convidados, a que o PÚBLICO teve acesso, estão sete altos quadros da Ongoing, entre eles o presidente e vice-presidente, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, respectivamente, Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED, João Paulo Alfaro, ex-espião, Agostinho Branquinho, ex-deputado do PSD, e ainda os ex-parlamentares Pedro Duarte, do PSD, e Humberto Pacheco, do PS.
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Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, foi convidado em Junho passado para participar num jantar debate sobre Portugal, "reservado" a "membros da nossa casa", a loja maçónica Mozart49, e com o objectivo de interagir "com o mundo profano". Na lista de convidados, a que o PÚBLICO teve acesso, estão sete altos quadros da Ongoing, entre eles o presidente e vice-presidente, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, respectivamente, Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED, João Paulo Alfaro, ex-espião, Agostinho Branquinho, ex-deputado do PSD, e ainda os ex-parlamentares Pedro Duarte, do PSD, e Humberto Pacheco, do PS.
Em Junho, Nuno Manalvo, ex-chefe de gabinete de Isaltino Morais na Câmara de Oeiras, através de emails onde utiliza uma linguagem claramente identificada com a maçonaria, convidou cerca de 40 personalidades a estarem presentes num jantar, no quadro de um grupo de reflexão designado Acreditar em Portugal. A iniciativa, "criada no nosso seio", podia ler-se num dos emails, era "reservada a membros da casa". O jantar tinha como orador Joaquim Aguiar, do Grupo Mello, e seria moderado por António Saraiva, presidente da CIP, tendo sido agendado para 4 de Julho, um mês depois das legislativas. O local era o restaurante Tasca da Esquina, "do nosso confrade Vítor Sobral".
Para além de Montenegro, que anteontem garantiu subscrever as críticas à maçonaria vertidas no relatório do PSD sobre as secretas (depois de o PÚBLICO ter noticiado que as referências à maçonaria foram apagadas) e que não esclareceu se pertence ou não à Mozart49, constam dos emails várias personalidades, muitas delas conectadas com a loja fundada por Paulo Noguês, do Instituto Luso-Árabe e da Associação Portugal-EUA, e por Neto da Silva, ex-deputado do PSD.
Na lista de emails enviados por Manalvo, a Ongoing aparece representada por uma comitiva de peso: além dos nomes já citados, constam ainda Vasco Rato e António Costa, este último director do Económico, propriedade da Ongoing. E ainda o vice-presidente da CIP, Armindo Monteiro, Álvaro Covões, produtor de espectáculos, António Lourenço dos Santos, ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do PSD, Amândio Antunes, director-geral da Finaccount, Carlos Veiga, ex-presidente de Cabo Verde, Luís Carrilho, comandante da polícia em Timor-Leste, José Amaral Lopes, ex-secretário de Estado da Cultura do PSD, general José Cordeiro, da Indústria de Desmilitarização e Defesa, Filipe Costa, ex-chefe de gabinete de Alberto Costa e hoje no ICEP em Xangai, Ricardo Kendall, da Midas, o advogado Rogério Tavares, e Francisco Rodrigues, do SIRP (serviços secretos).
Ao PÚBLICO, Manalvo começou por negar ter estado envolvido no jantar e afirmou desconhecer o evento. Perante o teor dos emails, admitiu que se tratou de uma mera iniciativa para criar um grupo destinado a discutir o futuro do país, embora não se tenha realizado. Manalvo não esclareceu, porém, por que razão os emails foram enviados a muitos nomes associados à loja Mozart49, nem se ele próprio era membro. E Saraiva justificou o encontro com a intenção de juntar profissionais para pensar o crescimento económico. Admitiu que partiu de si o convite a Aguiar, que conhece há muitos anos, mas "o jantar não se efectuou por falta de quórum", não explicando se o cancelamento se ficou a dever à ausência de interesse pelo tema ou se foi motivado pela escolha do orador. Saraiva negou que os convidados estejam ligados à Mozart49, questão que classificou "sem interesse jornalístico." Esta posição seria menos taxativa quando confrontado com a linguagem dos emails: "As respostas são dadas de acordo com a conveniência do entrevistado e, por isso, digo que desconheço o envolvimento da maçonaria", disse, recusando responder se tem ligações à maçonaria.
Já Aguiar garantiu que foi "abordado" por Saraiva, desconhecendo "quem ia assistir". "Não se pode falar num convite e não dei importância". "Na altura, [Saraiva] disse que já não se ia realizar o encontro, pois o restaurante estava ocupado", contou.
Num dos últimos emails enviados, em Junho, Manalvo (colega de Noguês na Associação Portugal-EUA e ex-assessor político do PSD) manifestava preocupação pelo facto de apenas "oito magníficos" terem, até então, tido "a cortesia de responder a esta iniciativa, honrando o lema de homens bons costumes". Aos que não responderam, escreveu que gostaria de "apelar mais uma vez aos vossos pergaminhos para que, pelo menos, se manifestem até à data-limite de segunda-feira, 27 de Junho, uma vez que sem quórum o jantar será cancelado". E terminou: "Subscrevo-me respeitosamente apresentando a todos e suas respectivas famílias, nos seus diversos graus e qualidades, os votos de um excelente fim-de-semana."
Notícia actualizada às 12h47:colocado texto na íntegra da edição do PÚBLICO em papel