Mulheres já podem vender lingerie na Arábia Saudita

As mulheres podem vender lingerie e já não são obrigadas a discutir o seu tamanho de roupa interior com os vendedores

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A partir de hoje acaba o que era uma situação bizarra na ultraconservadora Arábia Saudita: as mulheres podem vender lingerie e já não são obrigadas a discutir o seu tamanho de roupa interior com os vendedores.

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A partir de hoje acaba o que era uma situação bizarra na ultraconservadora Arábia Saudita: as mulheres podem vender lingerie e já não são obrigadas a discutir o seu tamanho de roupa interior com os vendedores.

A medida foi promulgada em Junho por decreto real e acaba com o que era um problema para muitas mulheres sauditas: apesar de vestidas com roupas largas da cabeça aos pés, tinham de explicar aos vendedores, a maioria deles asiáticos, o que pretendiam.

Muitas contam que acabavam por sair da loja com a compra errada. “Acabou a vergonha!”; congratulava-se na sua página da Internet Fatima Qarub, que tinha lançado uma campanha pedindo que os empregos nas lojas de lingerie fossem entregues a mulheres. “Foi uma decisão corajosa. Como muitas mulheres, tinha vergonha de comprar roupa interior a um homem que me punha questões sobre as minhas medidas”, comentou Samar Mohammed, 37 anos, à AFP. 

“Já não era sem tempo”, comentou a jornalista Samar Fatany à emissora britânica BBC, contando que ela e as mulheres que tivessem essa possibilidade preferiam comprar a sua roupa interior no estrangeiro, para não terem de dizer o seu tamanho a um homem.

A campanha pode dar hipótese às jovens mulheres que cada vez mais estão desejosas de trabalhar. A maioria das sauditas que o podem fazer são normalmente de elites e trabalham em medicina ou no Governo, diz a BBC. A nova lei pode criar até 40 mil empregos para as outras mulheres, que não têm acesso a rendimento ou educação. No reino ultraconservador, a separação dos sexos é estritamente imposta e as mulheres têm de ter um acompanhante (geralmente um familiar) quando saem de casa.

A decisão real foi tomada apesar da oposição das autoridades religiosas sauditas: o mufti da Arábia Saudita, xeque Abel Aziz Al-Sheikh, lembrou que coloca as vendedoras “em contacto directo” com os gerentes das lojas, e que neste emprego as mulheres podem “contar dinheiro”, algo que “é contrário à religião”.

Uma decisão anterior para permitir às sauditas trabalhar nestas lojas, tomada há três anos, foi bloqueada pelos religiosos conservadores que se opõem a que as mulheres trabalhem em vários actividades para impedir que se misturem. As mulheres sauditas têm vindo também a tentar desafiar a proibição de conduzir.