Empreendedor por necessidade
São geralmente desempregados e criam o próprio emprego por necessidade. Agência Piaget faz consultoria para microempreendedores
Carmo é a personagem de banda desenhada do livro “Plano da minha empresa”. Mas é também uma pessoa real. Tão real que a empresa de estafetas que criou foi umas das 13 que o Gabinete Integrado de Informação e Consultoria (GIIC), estrutura da Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), ajudou a erguer nos últimos anos.
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Carmo é a personagem de banda desenhada do livro “Plano da minha empresa”. Mas é também uma pessoa real. Tão real que a empresa de estafetas que criou foi umas das 13 que o Gabinete Integrado de Informação e Consultoria (GIIC), estrutura da Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), ajudou a erguer nos últimos anos.
Teresa Morais e Sofia Mora são os rostos deste gabinete de Vila Nova de Gaia, que quer ajudar as pessoas a criar o seu próprio emprego: fazem um serviço de consultoria e acompanhamento do processo, desde a concepção da ideia até à formalização do negócio.
Foi este trabalho - desenvolvido desde 2004 e que nesse ano apresentou um manual de apoio à criação de empresas -, que inspirou a tese de mestrado sobre microempreendedorismo que Teresa Morais apresentou em Setembro de 2011 na Universidade de Coimbra.
Microempreendedorismo tem pouco apoio
“O empreendedorismo tal como o discurso político o vincula nem sempre se adequa a estas pessoas. Para elas, tem mais a ver com a necessidade de um emprego e nem tanto com os chavões de inovação e oportunidade”, explica a técnica de desenvolvimento económico-social da APDES.
No estudo exploratório (e não representativo) de Teresa Morais, cinco dos seis empreendedores analisados estavam desempregados quando decidiram criar o próprio emprego. É geralmente esse o perfil dos microempreededores: pessoas desempregadas, que partem para esta opção por necessidade e que contam com um forte apoio da rede mais próxima, como familiares e amigos.
As novas medidas de apoio à criação do próprio emprego, promovidas pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e centradas sobretudo na concessão de empréstimos bancários, parecem não se adequar às necessidades dos microempreendedores.
Acesso à banca é um problema
A necessidade de contactar directamente a banca, em vez do IEFP, é um dos problemas identificados: “A linguagem formal e técnica pode, desde logo, afastar as pessoas que não estejam à vontade com o tipo de discurso técnico e financeiro da banca”, explica na tese Teresa Morais.
Em que devia o Estado apostar? “Uma boa prática é o acompanhamento próximo e ajustado à realidade das pessoas e ao contexto”. “Não existe apoio ‘pré-criação' da empresa”, lamenta Teresa Morais.
É precisamente nessa lacuna que se centra o trabalho do GIIC. E, depois de iniciar o processo de consultoria, “a taxa de desistência é muito baixa”, conta Sofia Mora. Isto apesar de, quando chegam ao gabinete, ser o "saber das pessoas" o "principal capital".
Para criar um negócio não é preciso saber exactamente o que se quer "à priori", mas é importante “ter uma ou duas ideias” para que se trabalhe sobre elas, explica Teresa Morais. Depois de ter a ideia estruturada, avançam para uma análise do grau de “viabilidade do negócio”: “Transpomos as ideias para números e percebemos se são concretizáveis”.