Redução da sinistralidade é "excelente notícia", mas as razões são "perversas"
“É uma excelente notícia porque há muitas vidas salvas em relação ao ano anterior, mas as razões para tal são algo perversas, não assentam tanto na melhoria das condições das vias, mas sobretudo na crise económica, que faz com que as pessoas poupem em gasolina, circulando mais devagar”, disse à Agência Lusa Manuel João Ramos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“É uma excelente notícia porque há muitas vidas salvas em relação ao ano anterior, mas as razões para tal são algo perversas, não assentam tanto na melhoria das condições das vias, mas sobretudo na crise económica, que faz com que as pessoas poupem em gasolina, circulando mais devagar”, disse à Agência Lusa Manuel João Ramos.
Portanto, frisou, “o efeito perverso e positivo desta crise é que estamos com menos traumas nas estradas”.
Para Manuel João Ramos, "o que é problemático nestas questões da sinistralidade e segurança rodoviária é que estão intimamente ligadas aos problemas e às condições económicas do país".
"Isso é manifesto nos dados da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária (ASNR)", acrescentou.
O balanço provisório da ANSR refere que, em 2011, foram registados 690 mortos, 2.416 feridos graves e 39.215 feridos ligeiros. Em relação a 2010, observou-se uma redução de 51 vítimas mortais (-6,9%), 221 feridos graves (-8,4%) e 4.709 feridos leves (-10,7%).
Para o presidente da ACA-M, estes dados reflectem também um aspecto que “continua a ser preocupante”: “temos uma sinistralidade rodoviária muito elevada em meio urbano e isso significa que as infra-estruturas urbanas estão desadequadas em relação ao tráfego pedonal”.
“Circula-se demasiado depressa em meio urbano, não há medidas de acalmia de trânsito e não há uma tendência das grandes urbes para a redução da velocidade urbana” e apostar em mais transportes públicos e em vias pedonais, sublinhou.
O presidente da ACA-M salientou ainda como positivo o facto de haver “uma série de auto-estradas, onde o tráfico é separado e deixa de haver risco de colisão frontal”, mas alertou para as dificuldades de manutenção destas vias.
“O problema do investimento tremendo que fizemos em infra-estruturas rodoviárias, que têm um efeito positivo na sinistralidade, é que neste momento estamos a pagar milhares de milhões à banca mundial e isso é algo que tem efeitos secundários sobre a qualidade e manutenção das vias”, justificou à Lusa.
Manuel João Ramos não quis deixar de registar as melhorias que foram feitas desde 2000 em termos das vias rodoviárias: “muitos pontos negros e vias problemáticas desapareceram e temos mais rotundas”.
Contudo, lamentou, “há problemas estruturais que ainda não foram resolvidos, nomeadamente a educação rodoviária, que na prática não existe, a fiscalização rodoviária” e “o crime rodoviário que não é julgado adequadamente”.
Para Manuel João Ramos, há uma tendência muito grande, por parte das autoridades policiais, para a fiscalização em detrimento da prevenção.
“Estes são factores estruturais que ainda não deslumbramos soluções para eles”, rematou.
Desde 1960 que o número de vítimas mortais registado nas estradas portuguesas não era inferior a 700. Contudo, salienta a ASNR, naquela época, o parque automóvel em circulação correspondia a cerca de 212.000 automóveis ligeiros e pesados, contra um valor aproximado de seis milhões de veículos em 2010.