Os cinco melhores momentos cinematográficos de 2011
O P3 só chegou em Setembro, por isso pedimos aos especialistas para escolherem o melhor de 2011. A bloguer Menina Limão viu 15 a 20 filmes por mês e ficou com estas cenas na memória
Facto: um momento não faz um filme. Facto: "os cinco melhores momentos de 2011" não significa "os cinco melhores filmes de 2011". Facto: eu não vi todos os filmes de 2011 que gostaria de ter visto. Facto: esta lista é espectacular.
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Facto: um momento não faz um filme. Facto: "os cinco melhores momentos de 2011" não significa "os cinco melhores filmes de 2011". Facto: eu não vi todos os filmes de 2011 que gostaria de ter visto. Facto: esta lista é espectacular.
"Restless"
Nunca num filme tão impregnado de morte se morreu tão docemente. Como não diria Saul Bellow, "morrem mais de" ternura. Uma imensa ternura, uma certa estranheza no modo de viver a morte e, depois, aquela heróica coragem de nos permitirmos uma paixão quando o nosso futuro são dias contados. Ela tem uma doença terminal, ele tem um amigo fantasma e o hábito de assistir a funerais e de demarcar o seu corpo a giz no asfalto. Mais tarde, vê-lo-emos desenhar os corpos de ambos no chão, no ensaio de uma morte que não tem lugar, não pode ter, no contexto de duas mãos dadas.
No Cinecartaz: "Inquietos"
"Blue Valentine"
A asfixia é uma medida de deslumbramento, quando determina o impacto de um objecto cinematográfico sobre o espectador. Mas antes de ser nossa, a asfixia é, no filme, um sintoma concreto da morte do amor. Eles são dois, depois são uno, depois o verniz lasca – ela quer sair. Sabemo-lo mais por pequenos gestos do que por categóricas declarações e é durante uma das cenas de sexo (filmadas com uma intimidade rara – aliás, há um minete explícito, tanto quanto sei, inédito; aleluia) que veremos representada por dentes que se cerram e um punho que se fecha a dolorosa rejeição, a repulsa de uma mulher pelo homem a quem outrora se abandonou desmesuradamente. Belo, muito belo, infinitamente triste.
No Cinecartaz: "Só Tu e Eu"
"Submarine"
Oliver recebe uma carta de Jordana. A sublinhado: "it’s over". Junto, vem uma cassete onde se lê: "despondency". Ele põe-na a tocar, aninha-se na cama e, lentamente, o quarto é engolido pelo mar, afundando-se até restar apenas o corpo de Oliver em maus lençóis, lá ao longe, à deriva. É a mais bonita representação de um naufrágio de que tenho memória, um naufrágio que qualquer coração partido reconhecerá como seu.
No Cinecartaz: "Submarino"
"Pina"
Uma obra notável com um primeiro momento maravilhoso: aquele que recria o espectáculo "A Sagração da Primavera", de Pina Bausch, mostrando-o como nunca o poderíamos apreender de uma cadeira de um teatro – jogos de perspectivas, profundidade de campo – e conseguindo, simultaneamente, compensar o facto de não termos os bailarinos à distância de um sobressalto, projectando os seus corpos contra nós e ampliando-lhes os movimentos e a emotividade. No fim, legitimando aquele que é, para a pessoa espectacular, o único 3D indispensável. Belíssima, brilhante homenagem.
No Cinecartaz: "Pina"
"Essential Killing"
São 80 minutos de luta pela sobrevivência de um homem atirado para a imensidão devoradora de uma paisagem gélida, circunscrição de uma travessia tão infernal quanto desconcertante. Muito perto do fim, depois de socorrido por uma estranha no interior da sua casa, é novamente devolvido ao frio e ao flagelo, agora montado num cavalo branco, breve conforto, leve esperança, apenas para o vermos derramar sobre a brancura cândida do seu dorso o vermelho soluçante do seu sangue. O animal moribundo sobre o animal vivo, o derrotado sobre o imaculado e, no último plano, apenas o cavalo e o seu corpo manchado, a testemunha de uma ausência.
No Cinecartaz: "Matar Para Viver"