“Serviço Nacional de Saúde está a ser decapitado”

Congelamento das progressões na carreira e ausência de concursos compromete a qualidade do SNS, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva

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Com a ausência de concursos e de progressões nas carreiras médicas, “a qualidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a ser afectada, o que terá consequências dramáticas para o futuro”, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva.

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Com a ausência de concursos e de progressões nas carreiras médicas, “a qualidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a ser afectada, o que terá consequências dramáticas para o futuro”, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva.

“O Serviço Nacional de Saúde está a ser decapitado”, lamenta. O “garante da qualidade” do SNS foi o facto de a progressão na carreira de médico ter sido sempre feita em “estrutura piramidal e com avaliação inter-pares, extremamente rigorosa e exigente”.

Em entrevista ao P3, o bastonário explica a sua preocupação: “O que está a acontecer, neste momento, é que o topo da carreira está a ser decapitado, por força das reformas, muitas delas precoces, e pela ausência de concursos. Ou seja, os assistentes graduados seniores, anteriores chefes de serviço, estão a desaparecer”.

Formação está comprometida

É uma situação que compromete a qualidade actual e a formação dos internos, também confrontados com a existência de cursos de Medicina em excesso, como o de Aveiro, que o bastonário apelida de "absolutamente inaceitável e incompreensível". “Isso põe tudo em causa – desorganizando as carreiras médicas é prejudicada a formação dos jovens médicos e deixa de haver estímulo para essa formação”, diz. 

O bastonário salienta que não está contra a reestruturação do SNS – “Era necessária, claro. Se vai ser feita pelos critérios de qualidade já receio que possa não acontecer”. A reorganização está a ser orientada por “restrições económicas impostas pelo Governo” e “não há flexibilidade do sistema para se adapte sem consequências na actividade clínica e na assistência ao doente”, o que já se tem feito notar, nomeadamente pelo “aumento das listas de espera cirúrgicas”.