É Natal em Portugal. "Bazamos" ou ficamos?
Como é estar regressar a um país, onde até os políticos falam de emigração? O P3 falou com três jovens. Uma está para partir, outra chegou para voltar e a terceira está cá sem contar
Para muitos emigrantes portugueses, Natal é sinónimo de regresso a casa. Mas com que bagagem se encara um país em crise, onde o coro de mensagens de incentivo à emigração torna-se, a cada dia, mais forte?
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Para muitos emigrantes portugueses, Natal é sinónimo de regresso a casa. Mas com que bagagem se encara um país em crise, onde o coro de mensagens de incentivo à emigração torna-se, a cada dia, mais forte?
Às vozes dos jovens que querem partir, juntaram-se agora as do Governo. Primeiro foi o Secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, a apoiar a fuga da “zona de conforto”. Depois o primeiro-ministro que sugeriu a emigração dos professores desempregados.
O eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, até propôs a criação de agência nacional de apoio a quem queira sair do país. “Pasma-me o governo querer criar um órgão governamental. É um apelo quase oficial à emigração”, reagiu, em declarações à Lusa, o presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas, Fernando Gomes. Mas só quando a economia voltar a crescer é que a emigração diminuirá, afirmou, esta quarta-feira, o ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira.
"A nossa história é de emigração"
A crise e a vontade de partir estão intimamente relacionadas. Estima-se que um em cada dez licenciados decide abandonar o país, mas a saída de portugueses nunca parou. Hoje há é mais qualificação e mais atenção. “A nossa história é de emigração. As pessoas sempre o fizeram. Os políticos, os investigadores, os média é que não deram sempre atenção”, salienta João Peixoto, investigador do Instituto Superior de Economia e Gestão.
O último a sair apaga a luz do aeroporto ou enquanto houver vida, há esperança? É possível desistir e partir, para não voltar? O P3 conversou com três jovens de Portugal e, principalmente, do mundo. Nenhuma sabe onde vai estar dentro de três anos.
Susana Abreu Ribeiro está a fazer um pós-doutoramento em São Francisco, nos Estados Unidos. De regresso para o Natal, trouxe, na mala, duas garrafas de vinho da Califórnia para uma amiga que trabalha na área. São um presente, mas também um incentivo à partida. Voltar não está fora de questão, mas é realmente uma hipótese “cada vez mais distante”.
Estudante de doutoramento, Zélia Ferreira voltou para Portugal em Julho. Para trás, ficaram dois anos em Washington. Hoje apercebe-se que se sente bem no Porto, descobriu outra qualidade de vida, procura uma vida mais estável. É “mau” ouvir de “quem governa o país” que a emigração é uma possibilidade (“Estão a tirar toda a esperança”), mas a verdade é que “abrir os horizontes nunca fez mal a ninguém”. A irmã vai seguir-lhes os passos.
Ana Rita Alves é mais uma arquitecta que não encontrou saídas em Portugal. Depois de quatro anos a trabalhar com um Pritzker, esteve um a viver de colaborações esporádicas. Correu o mundo à procura de emprego (só em Nova Iorque foram 11 entrevistas). A primeira proposta positiva chegou agora. Parte para a cidade do México dia 7 de Janeiro e uma amiga aproveita a boleia para também tentar a sua sorte. Não é uma "desistência", é uma "experiência". "Se calhar volto com mais bagagem para criar coisas com outras pessoas."