Kepler descobre primeiros exoplanetas do tamanho da Terra
A descoberta foi feita graças ao Kepler, o telescópio espacial da NASA e o mais avançado na procura de exoplanetas. Os cientistas tiveram que desenvolver novas técnicas para conseguir validar a existência de planetas tão pequenos com a informação obtida pelo telescópio. O artigo sobre a investigação, publicado nesta terça-feira na edição online da revista Nature, dá mais um passo em direcção ao desejo último da astronomia actual, o de encontrar um planeta do tamanho da Terra situado na região do espaço em relação à sua estrela onde possa ter água no estado líquido. Uma condição que os cientistas consideram ser a melhor para a existência de vida.
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A descoberta foi feita graças ao Kepler, o telescópio espacial da NASA e o mais avançado na procura de exoplanetas. Os cientistas tiveram que desenvolver novas técnicas para conseguir validar a existência de planetas tão pequenos com a informação obtida pelo telescópio. O artigo sobre a investigação, publicado nesta terça-feira na edição online da revista Nature, dá mais um passo em direcção ao desejo último da astronomia actual, o de encontrar um planeta do tamanho da Terra situado na região do espaço em relação à sua estrela onde possa ter água no estado líquido. Uma condição que os cientistas consideram ser a melhor para a existência de vida.
“É o início de uma era”, disse Francois Fressin, o primeiro de uma lista extensa de autores que produziu o artigo. O cientista trabalha em Harvard, no Smithsonian Center for Astrophysics, em Massachusetts, Estados Unidos. “Em breve seremos capazes de detectar este tipo de planetas à volta de outras estrelas e a outras distâncias”, disse citado pela Nature num artigo noticioso.
Ainda no início deste mês foi confirmada a existência de um planeta descoberto também pelo Kepler, que se tornou na altura o exoplaneta com o tamanho mais semelhante ao da Terra. O Kepler 22-b tinha 2,4 vezes o tamanho da Terra e, estima-se, uma temperatura de cerca de 22 graus. O planeta situa-se na região do seu sistema estelar que pode conter água em estado líquido.
“É muito interessante já que é bastante pequeno e está no local correcto para a água ser líquida”, referiu Fressin. “No entanto, é muito provável que seja demasiado grande para conter vida como nós a conhecemos”, disse citado pelo Guardian.
Mas os dois novos planetas dão um passo em frente. O Kepler-20e e o Kepler-20f têm respectivamente 0,87 e 1,03 o raio da Terra. Ou seja, o primeiro é mais pequeno do que Vénus e o segundo é ligeiramente maior do que o nosso planeta.
Segundo os investigadores, o Kepler-20e é o que está mais perto da sua estrela, e demora apenas seis dias a dar uma volta ao astro, enquanto o Kepler-20f faz uma translação em 20 dias. Ambos os planetas não fazem rotação, por isso têm sempre o mesmo lado virado para a estrela. Por estarem tão perto, em comparação Mercúrio demora 88 dias a dar a volta ao Sol, a temperatura na superfície é de 700 e 400 graus, respectivamente.
“Não somos capazes de determinar as suas composições exactas. Muito provavelmente os planetas são demasiado quentes para conterem vida como nós a conhecemos. No entanto, é muito provável que o Kepler-20f tenha migrado para dentro [do sistema estelar] a partir de uma órbita mais exterior, e pode ter sido um planeta habitável”, disse.
Sistema estelar intriganteOs dois planetas agora descobertos estão acompanhados por outros três exoplanetas. Todos com órbitas mais próximas da estrela do que Mercúrio do Sol. Um deles, um planeta parecido com Neptuno, muito maior do que a Terra, órbita entre os dois, o que torna a composição do sistema completamente diferente do que os astrónomos estão habituados.
Planetas de tamanhos diferentes “não se misturam no Sistema Solar, mas aparentemente fazem-no neste”, disse por sua vez David Charbonneau, que trabalha na mesma instituição e foi outro autor do artigo. “Este tipo de surpresas tem se tornado a norma quando se trata de exoplanetas”, disse o cientista, citado pela Nature.
A forma como os cientistas validaram a existência dos dois planetas foi engenhosa. O Kepler começou por identificar uma ligeira diminuição na luz emitida na estrela devido à passagem dos dois planetas. Como são tão pequenos, era muito custoso utilizar telescópios terrestres para observar o efeito gravítico que tinham na estrela e nos outros astros do sistema, que é a forma normal de confirmar a existência de um astro.
Por isso, os cientistas recorreram à estatística e verificaram qual é a probabilidade do fenómeno observado estar associado aos planetas e não, por exemplo, a um sistema binário, com duas estrelas. Uma grande ajuda foi a rapidez com que o Kepler-20e e o Kepler-20f terminam uma órbita, o que permite ter várias observações num espaço de tempo curto.
A técnica poderá ser aplicada para a confirmação de outros exoplanetas com o tamanho da Terra, o que os cientistas esperam que aconteça nos próximos anos.”No jogo cósmico das escondidas, encontrar planetas que tenham o tamanho e a temperatura exactos parece ser apenas uma questão de tempo”, disse Natalie Batalha, responsável pela equipa de ciência do Kepler, num comunicado da NASA. Para a cientista, as descobertas mais esperadas do Kepler ainda estão por vir.