Em Angola, "a única perspectiva é crescer mais"

Gonçalo Ferreira está em Angola há dois anos. Fugiu do ritmo alucinante de Lisboa, mas caiu no ritmo ainda mais alucinante de Luanda. Vantagem? Agora tem perspectivas de futuro

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Há duas convicções que justificam a permanência de Gonçalo Ferreira em Angola. “Por um lado, não sei onde vai parar a Europa. Por outro, neste país está tudo por fazer. A única perspectiva é crescer mais.” O jovem de 30 anos mudou-se para África há cinco anos, estando a residir em Angola há apenas dois.

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Há duas convicções que justificam a permanência de Gonçalo Ferreira em Angola. “Por um lado, não sei onde vai parar a Europa. Por outro, neste país está tudo por fazer. A única perspectiva é crescer mais.” O jovem de 30 anos mudou-se para África há cinco anos, estando a residir em Angola há apenas dois.

Mudou de vida porque sentia que não tinha um futuro em Lisboa – “O ritmo de trabalho era alucinante e não estava a construir nada”. Esteve em Moçambique até 2009, mas as coisas já não corriam bem do ponto de vista do emprego. A mulher teve uma proposta de trabalho no Reino Unido, Gonçalo decidiu ir com ela.

Mas a Europa mostrou-se um local complexo – “É uma engrenagem onde cada pessoa é uma pequena peça que tem de ser altamente especializada”. Gonçalo tinha estado em África (“o oposto da especialização, aqui temos de ser pau para toda a obra”) e sentiu-se afastado deste mercado. “Não consegui arranjar emprego.”

Salários já não são tão altos

Foi nessa altura que lhe falaram em Angola. “Surgiram umas oportunidades muito interessantes para gerir projectos empresariais em fase de arranque”, lembra Gonçalo. O tempo dos salários chorudos em Angola já abrandou: “O mercado tem crescido e os salários têm baixado”, garante o gestor, que ganha uma média de três mil dólares por mês.

“Há três anos, vir para Angola era coisa de doidos, mas agora toda a gente arrisca porque não tem nada a perder”, analisa Gonçalo, ao falar dos “muitos portugueses desesperados” que fogem da crise.

Apesar do abrandamento da economia angolana, ainda são os salários a grande vantagem de Angola. O trânsito é caótico, a insegurança é acentuada e o arrendamento “caríssimo” (um T2 no centro da cidade, exemplifica Gonçalo Ferreira, “custa uns três mil dólares”). E o visto, que agora já não é um problema para Gonçalo Ferreira – que conseguiu “visto de investidor” –, continua a ser um entrave à entrada e permanência de portugueses no país.

O jovem não tem dúvidas de que a vida dele estará para sempre ligada a Angola. “Quero fazer vida nos dois países, mas, com o tempo, ir mais vezes ao meu”, conta, referindo que a qualidade de vida é incomparavelmente maior em Portugal.

Angola não acabou com o ritmo alucinante de trabalho. Na verdade, agora trabalha ainda mais horas. Mas Luanda deu-lhe as perspectivas que não conseguia ter em Lisboa: “Pelo menos sinto que, profissionalmente, a minha vida está a tomar um rumo melhor", conclui.