“Tar” – Teatro Universitário do Porto e INFLAMA

A condição amadora dos grupos de teatro que produzem o espectáculo transparece em alguns momentos. No entanto, parecem conseguir fazer das fraquezas força

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Diminuindo um dos défices culturais da cidade do Porto, como é a relativamente escassa oferta de teatro, “Tar” apresenta-se como uma produção conjunta do TUP (Teatro Universitário do Porto) e da cooperativa cultural INFLAMA, baseada na peça “Fando e Lis”, de Fernando Arrabal. Baseada porque, como diz o panfleto de introdução, são atiradas mais umas quantas “achas na fogueira”.

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Diminuindo um dos défices culturais da cidade do Porto, como é a relativamente escassa oferta de teatro, “Tar” apresenta-se como uma produção conjunta do TUP (Teatro Universitário do Porto) e da cooperativa cultural INFLAMA, baseada na peça “Fando e Lis”, de Fernando Arrabal. Baseada porque, como diz o panfleto de introdução, são atiradas mais umas quantas “achas na fogueira”.

Resumidamente, “Fando e Lis” acompanha o percurso do casal de personagens que dá título à peça na sua busca por Tar, lugar mítico. A relação de Fando e Lis (paralítica) vive num jogo permanente entre amor e abuso, por vezes explicitamente marcada por imagens de grande violência. De resto, o autor espanhol é o “pai” do “teatro pânico”, sempre influenciado pelo teatro do absurdo (aqui visível no beckettiano trio de personagens Toso, Namur e Mitaro).

Quanto às tais “achas na fogueira”, essas traduzem-se em cenas que surgem como momentos que intercalam os actos da peça de Arrabal. Por isso, enquanto o texto de base economiza no número de personagens (cinco), “Tar” expande o leque (contam-se quinze). Tal soma justifica-se com esses mais curtos momentos, quadros que funcionam como alucinações de Lis e sempre despertados pela música que sai da sua grafonola.

A presença do pânico e do absurdo é ostensiva na tensão entre o humor (particularmente com o trio de personagens e com alguns momentos do próprio Fando) e a brutalidade (para a qual o espectador é advertido no início e especialmente forte nos episódios psicóticos de Lis), sendo fundamentalmente desse choque que vive o espectáculo. Essa severidade, por motivos circunstanciais, é nesta apresentação aumentada. Convém não esquecer que se trata de teatro amador. O espaço é desconfortável, sim (os mais atrasados provavelmente ficarão sentados em troncos dispostos no chão para esse efeito), mas a verdade é que o desconforto do local acaba por acentuar a experiência de incómodo que a peça pretende transmitir.

A condição amadora dos grupos de teatro que produzem o espectáculo seguramente transparece em alguns momentos. No entanto, numa peça com estas características, parecem conseguir fazer das fraquezas força, particularmente no despojamento do cenário e da caracterização ou na sobriedade dos figurinos, parecendo ainda acertada a escolha dos actores no desempenho de determinados papéis. “Tar” estará em cena nas instalações do TUP todos os dias até 18 de Dezembro.