Rasgando páginas de um livro nunca lido

A diversidade da oferta de produtos tem vindo a crescer em cada lugar do planeta mas o número total de produtos para oferecer no mundo, seguramente, diminuiu

Fotogaleria

Holmes Rolston compara a destruição das espécies com o “arrancar páginas de um livro que ainda não foi lido, escrito numa linguagem que os humanos mal sabem ler, sobre o lugar onde vivem” e “ os humanos precisam da compreensão do texto completo da evolução do ecossistema”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Holmes Rolston compara a destruição das espécies com o “arrancar páginas de um livro que ainda não foi lido, escrito numa linguagem que os humanos mal sabem ler, sobre o lugar onde vivem” e “ os humanos precisam da compreensão do texto completo da evolução do ecossistema”.

Ainda que seja uma evidência científica, a extinção das espécies é frequentemente negada pelas aparências. Um óptimo exemplo é a ilusão que resulta da abertura mundial do comércio.

Quando vamos ao supermercado é difícil acreditar que existam hoje, em todo o Mundo, menos variedades de espécies vegetais/animais do que em épocas já idas. Esta tendência é inteligentemente encoberta pela globalização do mercado que permite ali a colocação de produtos longínquos, os sobreviventes da selvagem concorrência comercial. Realmente, a imagem atraiçoa. Há bananas dacoli, ervilhas dacolá, chocolate do Gana, gravatas de seda de Itália…

A diversidade da oferta de produtos tem vindo a crescer em cada lugar do planeta mas o número total de produtos para oferecer no mundo, seguramente, diminuiu. Isto faz-me pensar num outro problema: o custo ambiental da globalização. Ou seja, como reflectir no preço destes produtos os efeitos ambientais que tem, por exemplo, o seu transporte que começa, muitas vezes, do outro lado do mundo. Mas deixo-o para outras “núpcias”.

Ainda assim, e apesar de ser uma evidência científica, a extinção maciça das espécies não é nada de recente na História da vida da Terra. Desde o aparecimento da vida que este fenómeno vem ocorrendo. Aliás, a maior extinção ocorreu na era Paleozoica (há cerca de 250 milhões de anos), em que se estima que tenham desaparecido entre 80% a 96% das espécies existentes.

O problema é que a actual fase de extinção que atravessamos é mais grave do que as anteriores, por várias razões: o facto de ser de origem humana, a rapidez com que se desenvolve, o alvo são quase todas as categorias de espécies, grande parte da extinção deve-se à eliminação e destruição dos próprio habitats das espécies (o que é um obstáculo ao reaparecimento destas) e, por último, a ameaça paira sobre ecossistemas com condições bióticas únicas (como as florestas tropicais ou os recifes de coral).